Um diagnóstico frequentemente considerado menos grave do que a anorexia e a bulimia, que no entanto é o distúrbio alimentar mais comum no mundo, pode causar tantos danos como os mais conhecidos, revela um novo estudo sobre a Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação, diagnosticado quando os sintomas de uma pessoa não se enquadram perfeitamente nas categorias clássicas, mas são ainda clinicamente significativos.
Investigadores da Universidade McGill e do Centro de Investigação Douglas, no Canadá, compararam dados clínicos de adultos com Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação aos de pessoas com um distúrbio alimentar como anorexia e bulimia. E verificaram que, em relação às medidas de depressão, ansiedade, bem-estar e preocupações com a forma corporal, peso e alimentação, as pessoas com Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação estavam tão doentes como as que tinham anorexia e bulimia e, em alguns casos, apresentavam sintomas mais graves.
“É fácil pensar na Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação como uma categoria ‘abrangente’ ou ‘ligeira’”, refere a autora principal, Linda Booij, professora do Departamento de Psiquiatria da McGill e chefe de investigação e desenvolvimento académico no Centro de Investigação e Tratamento de Perturbações Alimentares Douglas. “Como não se apresenta como as condições mais conhecidas, pode passar despercebida”, alerta.
Esta ideia errada pode também levar as pessoas a evitarem procurar ajuda por acharem que o seu distúrbio alimentar e o seu estado não é suficientemente grave, acrescenta.
O que é a Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação
A anorexia nervosa envolve uma restrição extrema da ingestão de alimentos, motivada por um medo intenso de ganhar peso; a bulimia nervosa é caracterizada por ciclos de compulsão alimentar seguidos de comportamentos purgativos, como vómitos ou uso indevido de laxantes, que são prejudiciais e ineficazes para a perda de peso, explicam os investigadores.
“Uma pessoa com Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação pode preencher todos os critérios para a anorexia nervosa, mas o seu peso não é suficientemente baixo para receber um diagnóstico formal”, explica Booij. “Outro exemplo seria alguém que vomita com frequência, mas não tem baixo peso e nunca tem episódios de compulsão alimentar.”
Até um em cada nove jovens é afetado pelo distúrbio alimentar conhecido como Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação, refere a especialista, que acrescenta que é necessário aumentar a sensibilização nas clínicas e no público em geral.
“Precisamos de levar este distúrbio alimentar da Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação a sério”, confirma Booij. “É importante realizar uma avaliação completa e não despriorizar ou negar automaticamente o tratamento às pessoas simplesmente porque não se enquadram num diagnóstico tradicional. Algumas pessoas necessitam do mesmo nível de cuidados e atenção.”
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