O que tem a ver a amiloidose cardíaca, uma doença do coração, com a síndrome do canal cárpico, um problema comum que afeta um nervo a nível do punho? É isso que investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) querem perceber melhor, com o estudo CarPoS – Systemic Transthyretin Amiloydosis: Carpal Tunnel Syndrome in a Portuguese population.
O CarPoS visa o rastreio de amiloidose cardíaca em doentes que são submetidos a cirurgia da síndrome do canal cárpico de causa desconhecida (idiopática). O objetivo é identificar os doentes operados ao canal cárpico que já têm amiloidose cardíaca, embora possam não ter ainda sintomas cardíacos.
Os resultados preliminares indicam que alguns doentes submetidos a uma cirurgia do canal cárpico já têm amiloidose. Estes primeiros resultados vêm corroborar os achados da clínica dos cardiologistas e de estudos recentes, como explica Elisabete Martins, professora e investigadora da FMUP que coordena este estudo, em colaboração com Sofia Pimenta e António Sousa.
“Muitos dos doentes com amiloidose cardíaca das nossas consultas referem, no seu historial, uma cirurgia prévia ao canal cárpico. Este pode ser um fator de risco. Neste estudo, estamos a tentar antecipar o diagnóstico o mais precocemente possível, na altura em que são operados, realizando uma avaliação ao coração e percebendo se os doentes já têm ou não amiloidose”, esclarece.
A amiloidose cardíaca é uma doença considerada rara, muitas vezes associada ao envelhecimento, que ocorre quando algumas proteínas se depositam no coração, contribuindo para a “rigidez” do músculo cardíaco e para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
De acordo com Elisabete Martins, “a transtirretina é uma dessas proteínas em circulação no nosso organismo que, por motivos que não conhecemos na totalidade, começa a depositar-se no miocárdio [músculo do coração]. Atualmente temos novos métodos de diagnóstico, particularmente de imagem de Medicina Nuclear, que marcam a presença de amiloidose por transtirretina a nível cardíaco”.
Os investigadores querem, agora, perceber se há vantagem em fazer uma biópsia da sinovial ou exames cardíacos, numa fase precoce, tendo em conta que já existe tratamento. “Vale a pena diagnosticar porque a doença é tratável”, acrescenta a professora da FMUP.
O estudo vai prosseguir nos próximos meses, com uma amostra maior (cerca de 100 indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos e indicação para cirurgia da mão) e com diversas especialidades envolvidas.
Liderado pela FMUP, este estudo conta ainda com a colaboração do Centro Hospitalar Universitário de São João, CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e RISE – Rede de Investigação em Saúde.