Scroll Top

Exercício é benéfico para pessoas com epilepsia, mas muitos médicos não o encorajam

epilepsia

Vários estudos sugerem que os benefícios associados ao exercício físico – melhor aptidão física, humor, pensamento, memória e qualidade de vida geral – aplicam-se às pessoas com epilepsia, tal como às restantes. Exceto em casos raros (epilepsia de reflexo induzido pelo exercício), a atividade física não aumenta o risco de convulsões, mas os inquéritos a estas pessoas revelam que são menos ativas do que a população em geral, tendem a perceber a sua saúde como pobre e têm uma aptidão física objetiva mais fraca. De facto, as pessoas com epilepsia têm sido frequentemente excluídas do desporto e do exercício, sobretudo devido ao medo, excesso de proteção e ignorância sobre os benefícios e riscos associados a tais atividades que, segundo a Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE), são recomendadas.

Jaime Carrizosa, investigador da Universidade de Antioquia, Medellín, na Colômbia, e Ricardo Arida, especialista da Universidade Federal de São Paulo, Brasil, lideraram um inquérito recente aos neurologistas latino-americanos para avaliar os seus conhecimentos sobre a importância da atividade física nas pessoas com epilepsia. “O que nos surpreendeu, de forma positiva, é que a maioria dos neurologistas conhece os benefícios do exercício físico em epilepsia”, refere Arida.

No entanto, apenas quatro em cada dez estavam conscientes das recomendações da ILAE e 35% disseram não ter informação sobre atividades físicas para as pessoas com epilepsia.

“Uma coisa é estar ciente dos benefícios do exercício e outra é discutir o exercício com um doente e prescrevê-lo ou recomendá-lo”, afirma Carrizosa. “Quantos deles dizem aos doentes como é importante fazer alguma atividade física três a cinco vezes por semana durante um determinado período de tempo? Ou só falam se o doente perguntar sobre isso?”

Medo associado à epilepsia

Os investigadores completaram uma revisão de trabalhos feitos sobre atividade física e epilepsia e dizem ter encontrado “menos de 42 pessoas onde houve uma associação entre exercício e convulsões, ao longo de mais de 30 anos de literatura de investigação”, afirma Carrizosa. “Eu diria que em mais de 99,5% das pessoas, não existe associação.”

O que parece haver é “muitos equívocos generalizados sobre o exercício em pessoas com epilepsia, o que é problemático”, afirma Hailey Briglia Alexander, neurologista da Wake Forest Baptist Health, nos EUA. “Penso que é uma falha definitiva que as pessoas que cuidam de pessoas com epilepsia não tenham conhecimentos atualizados.”

Seja por receio dos próprios ou das suas famílias, Alexander defende ser necessária mais informação e melhor comunicação médico-doente. “Não sabemos realmente que tipo de medo é este”, refere. “Medo de lesões devido a uma convulsão? Medo associado a vergonha? Medo de que outras pessoas não saibam o que fazer se tiverem uma convulsão? Os médicos podem ajudar a dissipar todos estes medos, mas temos de falar sobre isso.”

Alexander refere que algumas pessoas com epilepsia têm fatores de risco cardiovascular que podem colocá-las em maior risco do que a população em geral. E embora alguns destes fatores possam não ser controlados, a atividade física pode melhorar a saúde cardiovascular nas pessoas com epilepsia, tal como acontece com as outras.

“O exercício pode ser algo sobre o qual devíamos estar a insistir”, reforça. “Não apenas a responder a perguntas sobre o assunto se ele surgir na clínica, mas a iniciar conversas e a encorajar o exercício, tal como aconselhamos as pessoas sobre a importância de dormirem adequadamente e de não perderem doses de medicação.”

A importância da sensibilização

“Os médicos podem influenciar a decisão de um doente de ser mais ativo fisicamente ou de iniciar um programa de exercício”, diz Arida. “Podem ajudar os doentes a terem mais confiança em fazer exercício e falar sobre que atividades podem estar mais à vontade.”

É também importante enfrentar o medo de ter uma convulsão durante o exercício. “Para pessoas que são bem controladas, este não é um medo realista”, afirma Jane Allendorfer, professora associada de neurologia na Universidade de Alabama, EUA. “Ouvir isso de um médico seria realmente útil.”

Existem, no entanto, algumas barreiras à prática de atividade física por pessoas com epilepsia, como acesso a um local seguro e apropriado para o fazer exercício, acesso e disponibilidade das atividades de grupo, custos de adesão, aulas, transporte ou equipamento, depressão e ansiedade – o que pode tornar difícil iniciar e continuar o exercício – ou medo do estigma.

Apesar de tudo, é importante recordar o impacto de um estilo de vida saudável, refere Carrizosa. “Fala-se muito de novas tecnologias, novos medicamentos, cirurgias, etc., mas não se fala o suficiente sobre o que as pessoas podem fazer na vida quotidiana, como praticar exercício. É algo que se pode fazer em todo o mundo, onde quer que se esteja, e tem um grande impacto”.

Posts relacionados