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Mulheres com maior risco de diagnóstico errado em caso de ataque cardíaco

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Homens e mulheres são diferentes e são-no também no diagnóstico de um ataque cardíaco. Isto porque, segundo um estudo apresentado no congresso científico online da Sociedade Europeia de Cardiologia, as dores no peito são frequentemente diagnosticadas de forma incorreta nas mulheres.

As mulheres com dores no peito, quando comparadas com os homens, esperam mais de 12 horas até procurar ajuda médica, revelando “uma lacuna de género na primeira avaliação da dor torácica, com a probabilidade do ataque cardíaco ser subestimado nas mulheres”, refere Gemma Martinez-Nadal, autora do estudo e médica no Hospital Clínic de Barcelona, ​​em Espanha.

Além disso, “a baixa suspeita do ataque cardíaco ocorre tanto nas próprias mulheres como nos médicos, o que conduz a maiores riscos de diagnóstico tardio e incorreto”, alerta.

Para avaliar estas afirmações, o estudo procurou examinar as diferenças de género na apresentação, diagnóstico e tratamento de doentes admitidos com dores no peito, numa unidade de urgência, entre 2008 e 2019.

Assim, foram recolhidas informações sobre os fatores de risco para um ataque cardíaco, incluindo a hipertensão e a obesidade, de 41.828 pessoas com dores torácicas, das quais 42% eram mulheres. Importa ainda referir que, em média, as mulheres tinham 65 anos e os homens 59 anos.

Após a primeira avaliação médica de cada doente, os investigadores registaram o diagnóstico inicial, sendo este baseado no histórico clínico, nos exames físicos e no eletrocardiograma (ECG). Tal tinha como objetivo perceber se o médico considerava a dor no peito como “uma causa coronária ou de outra origem, como a ansiedade ou uma queixa musculoesquelética”, explica a autora do estudo.

De acordo com os resultados obtidos, 41% das mulheres eram mais propensas a esperar 12 horas ou mais após o início dos sintomas para procurar ajuda médica, comparativamente a 37% dos homens. Para Martinez-Nadal, tal “é preocupante, visto que a dor no peito é o principal sintoma da redução do fluxo sanguíneo para o coração (isquemia) devido ao estreitamento de uma artéria. Tal pode levar a um infarto do miocárdio, o que precisa de um rápido tratamento”.

Por outro lado, o diagnóstico inicial do médico referia que os homens, em comparação com as mulheres, tinham uma maior probabilidade de ver a síndrome coronária aguda (sinais e sintomas da obstrução de uma artéria) como a principal causa de dor torácica. Além disso, em 93% dos doentes, o ECG não forneceu um diagnóstico definitivo, tendo a síndrome coronária aguda sido observada em 42% dos casos que, quando analisada por sexo, era de 39% para as mulheres e 44,5% para os homens.

“No diagnóstico inicial do médico, as mulheres tinham uma maior probabilidade ​​de serem suspeitas de um problema não isquémico. Os fatores de risco, como a hipertensão e tabagismo, devem aumentar a suspeita de uma possível isquemia em doentes com dor torácica”, refere Martinez-Nadal. Contudo, “as mulheres com fatores de risco continuavam a ter menos probabilidades do que os homens de serem classificadas com uma possível isquemia”.

Assim, os resultados do estudo revelam que, nas mulheres, 5% dos casos da síndrome coronária aguda foram inicialmente mal diagnosticados, enquanto nos homens tal apenas se verificou em 3% das situações. Tal não deixa dúvidas de que o sexo feminino é, por si só, um fator de risco para o correto diagnóstico inicial em caso de ataque cardíaco.

“O ataque cardíaco é tradicionalmente considerado como uma doença masculina e tem sido pouco estudado, subdiagnosticado e subtratado nas mulheres, que podem atribuir os seus sintomas ao stress ou ansiedade.”

Por isso, a autora do estudo deixa o alerta: “as mulheres e os homens com dores no peito devem procurar ajuda médica com urgência”.

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