A cada hora que passa, três portugueses sofrem um AVC, sendo esta patologia considerada a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. As datas dedicadas ao tema, como o Dia Mundial do AVC, visam sensibilizar a população para a importância da prevenção e da correta identificação (e atuação) perante os sinais de um destes eventos, para assegurar um tratamento rápido e adequado, num local preparado para receber o doente. Por isso, a Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC) associa-se ao mote internacional para esta data, selecionado pela World Stroke Organization: “Precious Time” (“Tempo Precioso”), salientando que todos os minutos contam e fazem diferença no tratamento e recuperação dos doentes.
“Para dar uma ideia da grandeza, o nosso cérebro tem aproximadamente 84 mil milhões de neurónios. Quando se instala o AVC, a cada minuto que passa sem tratamento, morrem 1,9 milhões desses neurónios”, explica Liliana Pereira, embaixadora da sociedade para esta data.
“O AVC acontece quando a circulação a uma região do cérebro é interrompida, e então os neurónios deixam de receber o oxigénio e nutrientes de que necessitam para sobreviver. Sofrem dano, que pode ser transitório se, com o tratamento adequado, for restabelecida a circulação atempadamente; ou irreversível, levando às sequelas, que são tanto físicas, como psicológicas e cognitivas”, acrescenta.
Assim, “estas datas permitem lembrar-nos ou ensinar-nos que o AVC não tratado traz graves consequências: para a saúde do indivíduo que o sofre, que frequentemente passa a viver com limitações que podem mesmo chegar à dependência de terceiros; para as famílias, que se têm de se reorganizar face à nova situação e eventual necessidade de se tornarem cuidadores; e para a sociedade, que arca com os custos socioeconómicos da perda de produtividade ou funcionalidade do indivíduo e novos gastos em saúde com o mesmo”.
Neste sentido, sensibilizar a população para as consequências do AVC torna-se uma prioridade, a par do alerta para as medidas de prevenção.
A população deve conhecer, de forma consistente, os principais fatores de risco modificáveis (sedentarismo, obesidade, hipertensão arterial, tabagismo, fibrilhação auricular, diabetes e consumo excessivo de bebidas alcoólicas) e não modificáveis (fatores genéticos individuais, hereditariedade, idade, raça ou sexo), bem como os sinais de alerta (desvio da face, falta de força num braço, dificuldade em falar), sabendo que só há uma forma correta de agir em caso de um destes eventos: ligar para o 112, ativando a Via Verde do AVC.
“Qualquer cidadão consegue aprender a rever estes oito fatores de risco em si e nos seus familiares e iniciar a sua correção”, refere o presidente da SPAVC, Vítor Tedim Cruz. “Se todos o fizermos podemos transformar a nossa sociedade e comunidades nas mais saudáveis da Europa. Mesmo em contexto de crise económica”.
Nas palavras do especialista, “precisamos de um exército informado na luta diária contra o AVC junto de cada pessoa em risco”, para reduzir o peso da doença vascular cerebral na vida dos portugueses.
Retirar o AVC do top da mortalidade
O representante da Sociedade reforça que as três principais componentes para tirar esta doença do topo da mortalidade e morbilidade em Portugal são:
1) evitar o primeiro AVC ou Acidente Isquémico Transitório (AIT) através da “adesão em massa dos cidadãos à identificação e correção dos fatores de risco, ao invés de esperar por consultas médicas”;
2) evitar o segundo ou AIT por meio do “acesso às Unidades de AVC e consultas especializadas no diagnóstico etiológico, tratamento e prevenção pós-doença, para reduzir a probabilidade de repetição em doentes de alto risco”;
3) “manter, cuidar e estimular uma rede de centros/unidades dedicados à trombólise e garantir o acesso a trombectomia em tempo útil, o mais rápido possível após o início de um destes eventos”.
Os neurologistas finalizam lembrando que “com este conhecimento sobre AVC, é possível ser-se agente de mudança positiva na prevenção e tratamento atempado desta patologia e, com isso, salvar vidas”.