
Uma dieta de alta qualidade na juventude e na meia-idade pode ajudar a manter o bom funcionamento do cérebro na velhice, mostram as descobertas preliminares de um estudo que utilizou dados recolhidos de mais de 3.000 pessoas, acompanhadas ao longo de quase 70 anos.
A pesquisa junta-se a um crescente conjunto de evidências que mostram que uma dieta saudável pode ajudar a prevenir a doença de Alzheimer e o declínio cognitivo associado à idade.
Embora a maioria dos estudos anteriores sobre o tema se tenha concentrado nos hábitos alimentares de pessoas na faixa dos 60 e 70 anos, este novo trabalho é o primeiro a monitorizar a dieta e a capacidade cognitiva ao longo da vida, dos 4 aos 70 anos, e sugere que as associações podem começar muito mais cedo do que anteriormente reconhecido.
“Estas descobertas iniciais costumam apoiar as atuais orientações de saúde pública de que é importante estabelecer padrões alimentares saudáveis no início da vida, para manter a saúde ao longo da mesma”, refere Kelly Cara,especialista recém-formada da Tufts University, nos EUA.
“As nossas descobertas também fornecem novas evidências que sugerem que melhorias nos padrões alimentares até a meia-idade podem influenciar o desempenho cognitivo e ajudar a mitigar ou diminuir o declínio cognitivo nos anos posteriores.”
As vantagens de uma dieta saudável
O desempenho cognitivo, ou a capacidade de raciocínio, pode continuar a melhorar até à meia-idade, mas normalmente começa a diminuir após os 65 anos. Mas juntamente com os declínios associados ao envelhecimento podem ainda desenvolver-se problemas mais graves, como a demência.
Os investigadores dizem que uma dieta saudável, sobretudo uma dieta rica em alimentos vegetais com elevados níveis de antioxidantes e gorduras mono e polinsaturadas, pode apoiar a saúde do cérebro, reduzindo o stress oxidativo e melhorando o fluxo sanguíneo para o cérebro.
Para a nova pesquisa, os cientistas usaram dados de 3.059 adultos, que foram inscritos quando crianças num estudo britânico e que forneceram dados sobre a ingestão alimentar, resultados cognitivos e outros fatores através de questionários e testes ao longo de mais de 75 anos.
Analisando a ingestão alimentar dos participantes em cinco momentos face à sua capacidade cognitiva em sete momentos, os investigadores descobriram que a qualidade da dieta estava intimamente associada às tendências em geral, ou capacidade cognitiva “global”. Por exemplo, apenas cerca de 8% das pessoas com dietas de baixa qualidade mantiveram uma elevada capacidade cognitiva e apenas cerca de 7% das pessoas com dietas de alta qualidade mantiveram uma baixa capacidade cognitiva ao longo do tempo, em comparação com os seus pares.
A capacidade cognitiva pode ter impactos importantes na qualidade de vida e na independência à medida que envelhecemos. Entre os 68 e os 70 anos, os participantes do grupo cognitivo mais elevado apresentaram uma retenção muito maior da memória de trabalho, velocidade de processamento e desempenho cognitivo geral, em comparação com os do grupo cognitivo mais baixo.
Além disso, quase um quarto dos participantes do grupo cognitivo mais baixo apresentava sinais de demência nesse momento, ao contrário dos participantes do grupo cognitivo mais elevado.
Embora a maioria das pessoas tenha observado melhorias constantes na sua qualidade alimentar ao longo da vida adulta, os investigadores notaram que ligeiras diferenças na qualidade da dieta durante a infância pareciam definir o tom para os padrões alimentares mais tarde na vida, para melhor ou para pior. “Isto sugere que a ingestão alimentar no início da vida pode influenciar as nossas decisões alimentares mais tarde, e os efeitos cumulativos da dieta ao longo do tempo estão ligados ao desenvolvimento das nossas capacidades cognitivas globais”, refere Cara.
Decisões alimentares que fazem a diferença
Os participantes do estudo que mantiveram as capacidades cognitivas mais elevadas ao longo do tempo tenderam a comer mais alimentos recomendados, como vegetais, frutas, legumes e grãos integrais, e menos sódio, açúcares adicionados e grãos refinados.
“Os padrões alimentares com grupos de alimentos vegetais integrais ou menos processados, incluindo vegetais de folhas verdes, feijões, frutas integrais e grãos integrais, podem ser mais protetores”, afirma Cara. “Ajustar a ingestão alimentar em qualquer idade para incorporar mais destes alimentos e alinhar-se mais estreitamente com as recomendações dietéticas atuais provavelmente melhorará a nossa saúde de muitas formas, incluindo a nossa saúde cognitiva.”