
Apoiar os doentes com cancro digestivo metastático e as suas famílias durante toda a jornada contra a doença é o grande objetivo do SHAPE (Support Harmonized Advances for better Patient Experiences), uma iniciativa internacional pioneira, que acaba de chegar a Portugal, no âmbito do Dia Mundial da Saúde Digestiva, que se assinala no próximo dia 29 de maio, em forma de materiais concebidos para melhorar a qualidade de vida do doente e que se centram na comunicação com os profissionais de saúde, carga psicológica, nutrição e atividade física.
“Há ainda uma grande iliteracia, globalmente, em relação à oncologia”, defende Anabela G. Barros, Diretora do Serviço de Oncologia da ULS Coimbra e Presidente do Grupo de Investigação dos Cancros Digestivos. “E o cancro digestivo, conceito muito abrangente e que inclui diversas entidades clínicas não é um tema que se aborde frequentemente, ao contrário, por exemplo, do cancro da mama ou, até, do da próstata e do pulmão. Isto porque é bastante vasto, ou seja, muitos órgãos podem ser alvo de tumores malignos, o que dificulta a abordagem global do tema, mas, também, porque ainda existe algum estigma associado”, explica.
Por isso, considera que “todas as iniciativas que permitam aumentar a literacia em saúde são uma mais-valia”. Como este projeto, desenvolvido pela Servier, em colaboração com a Digestive Cancers Europe, e promovida pela Servier, que integra uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde e associações de doentes, com foco em aspetos essenciais da jornada do cancro digestivo.
Em Portugal, este programa traduz-se, inicialmente, na realização de três brochuras informativas, especialmente adaptadas, disponíveis para os profissionais de saúde e para os doentes com cancro digestivo.
“São informações que configuram não só um ponto de partida, como um ponto de retorno quando necessário. O doente pode consultar a informação e, eventualmente, até, questionar o médico numa próxima consulta criando, efetivamente, um diálogo. Algo que vai resultar numa melhoria da sua qualidade de vida”, refere a médica.
“Além de que, emocionalmente, ter um doente que se sente mais apoiado, um doente que sente que tem mais fontes de informação, maiores recursos para poder atender às suas necessidades ou dúvidas é, por si só, muito positivo. Um comentário frequente dos oncologistas prende-se com a impossibilidade de discutir com o doente as opções terapêuticas disponíveis o que relaciona, iniludivelmente, com a falta de informação dos doentes nesta área”, acrescenta.
A questão do apoio emocional ao doente com cancro digestivo é um dos temas em foco e um aspeto, de acordo com a especialista, muito importante. “Por vezes, os doentes recebem bastante mal a ideia de virem a ter apoio da psico-oncologia. Há, ainda hoje, algum preconceito em relação à saúde mental e termos disponíveis este tipo de materiais pode ajudá-los a serem mais recetivos a este tipo de ajuda.”
A questão do exercício físico é, também, abordada e, aqui, a especialista chama a atenção para sua importância para doenças como o cancro digestivo. “Estamos a falar de doentes que podem perder grande quantidade de massa muscular, muitas vezes até antes do diagnóstico, sendo essencial que se mantenham ativos. Mas as pessoas têm o conceito inverso, ou seja, acham que é melhor ficarem por casa, não manterem as atividades habituais e, pelo contrário, resguardarem-se. Efetivamente, incentivar as pessoas a manterem alguma atividade física, adaptada às suas capacidades, é muito importante e este tipo de materiais reforça essa mensagem.”