Scroll Top

Sobreviventes de cancro que continuam a fumar têm um risco elevado de AVC ou ataque cardíaco

sobreviventes de cancro

Os sobreviventes de cancro que continuam a fumar após o diagnóstico têm um risco quase duplo de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou morte por doença cardiovascular em comparação com os não-fumadores, mostra um estudo publicado no European Heart Journal, uma revista da Sociedade Europeia de Cardiologia.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em 2020 contavam-se mais de 50,5 milhões de sobreviventes de cancro em todo o mundo. O autor do estudo, Hyeok-Hee Lee, especialista da Faculdade de Medicina da Universidade de Yonsei, na Coreia, afirma que “um diagnóstico de cancro é um acontecimento de vida extremamente stressante, que frequentemente leva a alterações significativas no estilo de vida de uma pessoa. O tabagismo, em particular, é um comportamento relacionado com a saúde que pode ser fortemente influenciado pela angústia mental. No entanto, pouco se sabia sobre a relação entre as mudanças nos hábitos tabágicos após um diagnóstico de cancro e o risco de doença cardiovascular – a principal causa de morte não relacionada com o cancro entre os sobreviventes de tumores malignos”.

Os investigadores analisaram, por isso, dados de 309.095 sobreviventes de cancro que nunca tinham tido um enfarte do miocárdio ou um acidente vascular cerebral e que fizeram exames de saúde antes e depois do diagnóstico de cancro, durante os quais o estatuto de fumador foi avaliado através de um questionário. Os doentes foram, depois, divididos em quatro grupos, com base na alteração dos seus hábitos tabágicos após o diagnóstico de cancro: (1) não-fumadores, (2) fumadores que deixaram de fumar, (3) iniciaram o consumo de tabaco e (4) continuaram a fumar.

Dos 309.095 sobreviventes de cancro, 250.102 (80,9%) eram não-fumadores, 31.121 (10,1%) deixaram de fumar, 4.777 (1,5%) iniciaram ou recaíram no tabagismo e 23.095 (7,5%) continuaram a fumar após o diagnóstico de cancro.

Seguiu-se a avaliação do risco de eventos cardiovasculares (enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte devido a doença cardiovascular) para cada grupo durante uma mediana de 5,5 anos e verificou-se que, em comparação com os não-fumadores, o risco de eventos cardiovasculares durante foi 86%, 51% e 20% mais elevado para os que continuaram a fumar, os que iniciaram/retomaram e os que deixaram de fumar, respetivamente.

Os benefícios de deixar de fumar foram ainda maiores quando comparados com o facto de continuar a fumar: das pessoas que eram fumadoras antes de lhes ser diagnosticado cancro, 57% deixaram de fumar depois de descobrirem que tinham a doença e, aqui, a cessação do tabagismo foi associada a uma redução de 36% do risco de eventos cardiovasculares.

Benefícios para os sobreviventes de cancro

Cerca de um em cada cinco doentes que continuou a fumar reduziu o seu consumo diário de tabaco em pelo menos 50% após o diagnóstico de cancro. Os que continuaram a fumar, mas fumaram menos depois de saberem que tinham cancro, tiveram o mesmo risco de eventos cardiovasculares que aqueles que continuaram a fumar sem redução.

“Alguns indivíduos podem encontrar consolo na redução bem-sucedida do seu consumo de tabaco sem deixar completamente de fumar”, afirma Lee. “No entanto, os nossos resultados mostram que fumar menos não deve ser o objetivo final e que os fumadores devem deixar de fumar completamente para obterem os benefícios de abandonar totalmente o hábito.”

De entre as pessoas que não eram fumadoras antes do diagnóstico de cancro, 2% começaram ou recomeçaram a fumar depois de descobrirem que tinham cancro. Para estas, o início ou recaída do tabagismo foi associado a um aumento de 51% do risco de doenças cardiovasculares, em comparação com a manutenção do hábito de não fumar.

“Embora o nosso estudo não forneça provas conclusivas sobre as causas subjacentes ao início ou recaída do tabagismo, alguns sobreviventes de cancro podem perder a motivação para ter um estilo de vida saudável após a recuperação, enquanto outros podem recorrer ao cigarro como forma de lidar com o stress do seu diagnóstico. Estas são apenas especulações e é necessária mais investigação para determinar os fatores associados ao início ou à recaída do tabagismo nos sobreviventes de cancro.”

Para o especialista, os resultados deste estudo “reforçam as provas existentes sobre os conhecidos riscos cardiovasculares do tabagismo e sublinham os benefícios da cessação tabágica, mesmo para os sobreviventes de cancro”.

“Além disso, a constatação de que mais de 40% dos doentes que fumavam antes do diagnóstico de cancro continuaram a fumar posteriormente realça a necessidade de esforços mais robustos para promover a cessação tabágica entre os sobreviventes de cancro, que já apresentam um risco elevado de doenças cardiovasculares em comparação com os seus pares.”

Posts relacionados