
Um diagnóstico de cancro pode fazer com que a vida normal seja interrompida, com o tratamento a tornar-se o centro das atenções, deixando muitas vezes de lado um aspeto essencial: o bem-estar emocional e espiritual. “A abordagem da mente e do espírito do doente não pode ser ignorada enquanto tratamos o cancro”, defende, por isso, Kevin Rakszawski, oncologista do Penn State Cancer Institute, que não tem dúvidas: “O bem-estar emocional e espiritual de uma pessoa é muitas vezes determinante para o seu bem-estar físico, sobretudo durante o tratamento do cancro.”
Os oncologistas estão compreensivelmente concentrados naquilo que fazem melhor, tratar o cancro que está a causar estragos no doente; e os doentes estão concentrados em obter os melhores cuidados para terem as melhores hipóteses de sobrevivência. Para além disso, pensar no bem-estar geral do doente exige intencionalidade, afirma Rakszawski.
“Penso que existem muitos equívocos, tanto por parte dos oncologistas como dos doentes, em relação ao bem-estar geral”, considera o especialista. “Muitas vezes, os oncologistas podem hesitar em fazer as perguntas difíceis. O mesmo se passa com os doentes – muitas vezes olham para a sala de exames ou a clínica como um local para tratar apenas do aspeto físico e, por isso, podem não levantar preocupações sobre as suas próprias emoções.”
Mas é preciso tratar mais do que o cancro, reforça Michael Hayes, diretor do programa fundador do CARE Center, que afirma que se devem tratar “as pessoas que por acaso têm cancro. Os oncologistas apercebem-se da importância de cuidar de toda a pessoa, mas estão tão pressionados que muitas vezes concentram-se apenas na sua especialidade”.
“A evidência diz-nos que não se trata apenas do tratamento biomédico, mas também da atenção aos aspetos psicossociais, emocionais e espirituais, que são uma parte fundamental do tratamento”, afirma Hayes. “Os doentes vivem mais tempo e têm melhores resultados quando todos estes aspetos estão presentes.”
O poder da mente no tratamento do cancro
O estado de espírito e as emoções têm impacto na saúde através da ligação mente-corpo, defende. Ao abordar propositadamente o stress, a capacidade de lidar com a situação, a ansiedade, o luto, a perda e a espiritualidade, os doentes estarão em melhor posição para lidar com os desafios físicos que acompanham o cancro.
Os terapeutas podem oferecer-lhes um conjunto de ferramentas concretas que podem utilizar para enfrentar melhor o efeito de montanha-russa que é viver de exame em exame e de resultado de teste em resultado de teste. O bem-estar é uma sensação que existe na ausência ou na presença de doença – um pensamento revolucionário para muitos deles. E que se deve estender a quem deles cuida ou está mais próximo.
“A palavra ‘C’ pode ser um tabu ou algo que nos deixa em bicos de pés, mas por vezes temos de partir alguns ovos e abrir a porta para dizer ‘Estou aqui sempre que quiseres falar comigo’. É um convite, não uma imposição”, afirma. “O medo promove o silêncio, que pode aumentar o sofrimento da pessoa afetada e dos seus amigos ou familiares.”