
Há uma nova tendência que está a preocupar os especialistas: as mulheres de meia-idade e mais velhas estão a ser diagnosticadas com síndrome do coração partido com mais frequência (até 10 vezes mais) do que as mulheres mais jovens ou os homens de qualquer idade.
Publicado no Journal of the American Heart Association, o estudo que o confirma sugere que esta doença se tornou mais comum, e a incidência tem aumentado continuamente desde muito antes da pandemia de COVID-19.
“Embora a pandemia global de COVID-19 tenha colocado muitos desafios e stressores às mulheres, a nossa investigação sugere que os diagnósticos de Takotsubo já estavam a aumentar muito antes deste problema de saúde pública”, refere Susan Cheng, diretora do Instituto de Investigação sobre Envelhecimento Saudável do Departamento de Cardiologia do Instituto do Coração Smidt, nos EUA, e autora sénior do estudo.
“Este estudo valida ainda mais o papel vital que que a relação cérebro-coração desempenha na saúde em geral, sobretudo para as mulheres.”
O impacto da síndrome do coração partido
Cheng e sua equipa usaram dados de hospitais nacionais, recolhidos entre mais de 135.000 mulheres e homens que foram diagnosticados com a síndrome de Takotsubo entre 2006 e 2017. Embora confirme que as mulheres são diagnosticadas com mais frequência do que os homens, os resultados também revelaram que os diagnósticos têm aumentado pelo menos seis a 10 vezes mais rapidamente entre as mulheres de 50 a 74 anos do que para qualquer outro grupo demográfico.
Dos 135.463 casos documentados de cardiomiopatia de Takotsubo, a incidência anual aumentou de forma constante em ambos os sexos, com as mulheres a contribuírem para a maioria dos casos (83,3%), sobretudo aquelas com mais de 50 anos.
Os investigadores observaram em particular um aumento significativamente maior na incidência entre mulheres de meia-idade e mulheres mais velhas, em comparação com mulheres mais jovens. Para cada diagnóstico adicional de Takotsubo em mulheres mais jovens – ou homens de todas as idades – havia 10 casos adicionais diagnosticados para mulheres de meia-idade e seis diagnósticos adicionais para mulheres mais velhas.
Antes deste estudo, os especialistas sabiam apenas que as mulheres são mais propensas do que os homens a desenvolver a síndrome do coração partido. Este último estudo é o primeiro a perguntar se há diferenças de sexo com base na idade e se as taxas de casos podem estar a mudar ao longo do tempo.
Como Cheng explica, a forma como o cérebro e o sistema nervoso respondem a diferentes tipos de stressores é algo que muda à medida que as mulheres envelhecem.
“Provavelmente há um ponto de inflexão, logo após a meia-idade, onde uma resposta excessiva ao stress pode impactar o coração”, refere Cheng. “As mulheres nesta situação são especialmente afetadas, e o risco parece estar aumentando.”
Embora os profissionais de saúde entendam que a relação entre o stress e o risco de doenças cardíacas é extremamente importante, ainda há muito a discernir. “Este estudo em particular ajuda a esclarecer que as mulheres de uma determinada faixa etária estão desproporcionalmente em maior risco de cardiomiopatia de stress, e que o risco está aumentando”, refere Christine M. Albert, responsável do Departamento de Cardiologia do Instituto Smidt.
“O aumento pode ser devido a mudanças na suscetibilidade, no meio ambiente ou em ambos. É preciso que se façam mais trabalhos para desvendar os problemas que causam a síndrome do coração partido e outras condições dominadas pelas mulheres.”