
Uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra (UC) está a realizar uma investigação para testar e encontrar novos alvos e abordagens terapêuticas para o traumatismo crânio-encefálico, uma lesão no tecido do cérebro que incapacita a função cerebral, de forma temporária ou permanente, e que pode ter consequências comportamentais e/ou cerebrais.
Esta investigação pretende encontrar novas respostas para combater os efeitos secundários deste traumatismo e prevenir as alterações causadas por um trauma, como mudanças comportamentais (perdas de memória, alterações de humor, dificuldades de aprendizagem e concentração) e cerebrais (nomeadamente, perda de massa branca e diminuição de volume).
O estudo pretende vir a identificar terapias mais eficazes, dado que “um dos grandes problemas do traumatismo crânio-encefálico é a falta de uma terapia eficaz e direcionada contra os seus efeitos negativos”, explica Ricardo Leitão, investigador do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CIBB) da UC e investigador responsável do projeto ‘Infiltração de neutrófilos através da barreira hemato-encefálica no traumatismo crânio-encefálico: papel da CXCL8’.
O investigador adianta que “as terapias usadas na atualidade focam-se em tratar os efeitos secundários do trauma (como o edema, a inflamação, as convulsões, e o aumento da pressão intracraniana), mas apesar destas terapias diminuírem os efeitos pós-trauma, e consequentemente melhorarem a vida de doentes após saída do hospital, alguns pacientes desenvolvem consequências comportamentais e alterações cerebrais significativas, meses ou anos após o evento traumático”.
Ricardo Leitão adianta ainda que, na Europa, o traumatismo crânio-encefálico “conta anualmente com 2,5 milhões de novos casos e resulta em cerca 100.000 mortes por ano, tendo um grande impacto socioeconómico e afetando não só aqueles que sofrem o trauma, como também os cuidadores e as pessoas que rodeiam quem é diagnosticado com esta patologia”.
Para encontrar novas terapêuticas, a equipa de investigação vai usar modelos de culturas celulares para testar e avaliar a forma e os mecanismos usados pelos neutrófilos (células que integram o sistema imunológico, que têm um papel determinante na defesa do corpo contra focos inflamatórios e infeciosos) para migrarem da corrente sanguínea para o cérebro.
Paralelamente, vai ser estudado o papel de uma proteína que está envolvida neste processo de invasão dos neutrófilos, uma vez que tem sido associada a um pior prognóstico e/ou a maior probabilidade de morte após um traumatismo crânio-encefálico.
Traumatismo crânio-encefálico: uma das maiores causas de morte
Assinala-se, a 17 de outubro, o Dia Mundial do Trauma, efeméride que procura alertar para a crescente ocorrência de acidentes e lesões que causam mortes e incapacidade em todo o mundo, e a sensibilizar a população para a necessidade de prevenir estes problemas.
Para Ricardo Leitão, sendo o traumatismo crânio-encefálico uma das maiores causas de morte e incapacidade no mundo, a celebração desta data tem a missão de “enfatizar a importância de salvar e proteger vidas durante os momentos mais críticos. Além disso, é também um dia para fornecer educação sobre como evitar lesões traumáticas e mortes, e sobre a investigação básica e translacional que se faz nesta área pelo mundo fora”.