O que sabem os viajantes portugueses sobre a malária? Estão conscientes, antes de viajar, do que é e como se podem proteger? Estas foram algumas das questões a que um grupo de especialistas nacionais procurou dar resposta. Um estudo que confirma que, apesar de o conhecimento sobre a doença ser razoável, há muitas conceções erradas, sobretudo em relação à prevenção.
Foi através de um inquérito realizado no âmbito da Consulta de Medicina de Viagem, do Centro Hospitalar de S. João, feito a pessoas com idades entre os 20 e os 80 anos, 51% das quais do sexo masculino, que se percebeu que esta é uma consulta que ainda não se transformou em rotina para quem viaja.
De resto, os dados, publicados na Acta Médica Portuguesa, revelam que para 74% dos inquiridos, esta era a primeira Consulta de Medicina de Viagem, ainda que, destes, 31% já tivessem feito uma viagem a pelo menos um destino endémico de malária. Para metade, a duração da viagem era inferior a 14 dias e a maioria fazia-o por lazer.
Incapazes de identificar risco no país de destino
Ainda que grande parte das respostas referentes à doença (63%) tivessem corretas, entre as quais as referentes aos sintomas ou à forma de transmissão, 20% não identifica a vacinação como forma de prevenção da malária.
E apesar de quase todos viajantes terem identificado a picada de mosquito como forma de transmissão, pelo menos três em cada dez (31,2%) consideraram que a transmissão pode ocorrer através de água e alimentos contaminados.
Sobre o risco de malária no país de destino da viagem, 19% foi capaz de o classificar corretamente, mas os restantes, a maioria, ou o desconheciam ou classificavam de forma errada.
Dados que os especialistas consideram “bastante preocupantes”, uma vez que desconhecendo o verdadeiro risco de doença, isso pode “condicionar comportamentos inadequados, tanto de excesso de zelo como de falha na proteção pessoal, acarretando, neste caso, maior risco de exposição à doença”.
Conhecimento sobre prevenção é o que mais falha
Mais de 90% dos viajantes sabem que devem recorrer ao serviço de urgência em caso de suspeita de doença, mas apenas uma minoria é capaz de identificar o tempo de incubação da malária, o que é importante, uma vez que os sintomas podem surgir meses depois do regresso da viagem.
Mas é quando se trata da prevenção que mais falha o conhecimento. Grande parte dos viajantes reconhece os padrões de transmissão relacionados com temperatura e humidade, mas apenas menos de metade identifica o entardecer e amanhecer como horários críticos e, por isso mesmo, merecedores de proteção máxima.
Por isso, os especialistas consideram ser importante “adaptar a informação a transmitir a cada viajante, de forma a colmatar as falhas no conhecimento de cada um”.
Para isso podem ser usados “folhetos informativos sobre malária na sala de espera” ou o recurso a novas tecnologias, “plataformas informáticas de fácil acesso, adaptadas ao viajante português, que divulgassem informação, fossem interativas e permitissem alcançar um maior número de viajantes”.