De um lado o trabalho; do outro a família. Quando as exigências de um e outro se tornam difíceis de conciliar, gera-se stress. Uma situação que, confirma um novo estudo, pode contribuir para a diminuição da saúde do coração, sobretudo entre as mulheres.
Publicado no Journal of American Heart Association, o trabalho defende que este deve ser considerado mais um fator no tratamento de doenças cardiovasculares.
Itamar Santos, professor da Universidade de São Paulo e autor principal do estudo, explica que, embora sejam consistentes os resultados que mostram “que pessoas sob stress têm mais doenças cardiovasculares”, faltam dados que as associem à dificuldade de conciliar trabalho e família.
Foi isso que quis explorar, juntamente com a sua equipa. Para isso, foram avaliados mais de 11.000 trabalhadores brasileiros, com idades entre os 35 e os 74 anos, que preencheram questionários com base num modelo que media o impacto do trabalho na vida familiar e vice-versa.
A saúde do coração foi avaliada também através de questionários, aos quais se juntaram exames clínicos e resultados laboratoriais para fatores como o tabagismo, índice de massa corporal, dieta, atividade física, colesterol, pressão arterial e nível de açúcar no sangue.
E os resultados confirmam que os conflitos entre família e trabalho afetam a saúde do coração, sobretudo do feminino.
De acordo com os especialistas, o stress crónico pode afetar o coração, aumentando a inflamação no corpo. O que se pode traduzir na pressão arterial e no colesterol, além de conduzir a comportamentos pouco saudáveis, como falta de sono e exercício, má alimentação e ganho de peso.
Gina Price Lundberg, cardiologista preventiva em Atlanta e diretora clínica do Emory Women’s Heart Center, considera que este estudo reforça a necessidade de um equilíbrio saudável entre vida profissional e familiar.
“Quando se trabalha muito, não há tempo para lazer ou hábitos saudáveis. Não há tempo para ir ao ginásio ou apenas ter uma boa noite de sono.”
Mulheres sofrem mais para conciliar trabalho e família
Embora ambos os sexos tenham sido afetados, Itamar Santos revela que o impacto é maior nas mulheres.
“No conflito entre trabalho e família, elas parecem ser especialmente suscetíveis a este tipo de stress”, revela, sugerindo que esta disparidade pode ser explicada, pelo menos para algumas mulheres, pela importância que atribuem à vida familiar.
Gina Price Lundberg concorda. “Uma pessoa sente o stress de cumprir os papéis de género e acho que as mulheres ainda sentem mais a necessidade de ter essa vida doméstica estimulante”, refere. “Os homens estão a ajudar mais do que nunca, mas acho que as mulheres que trabalham ainda sentem o stress de tentar fazer tudo”, reforça.