Diogo Reis Carneiro e Neuza Domingues, investigadores da Universidade de Coimbra (UC), vão receber o Prémio Maria de Sousa, atribuído pela Ordem dos Médicos e pela Fundação Bial. Com os seus projetos de investigação, financiados pelo galardão, os cientistas pretendem trazer novos contributos para compreender a doença de Parkinson e o envelhecimento celular.
O Prémio Maria de Sousa, uma homenagem à médica e investigadora Maria de Sousa, é promovido pela Ordem dos Médicos e pela Fundação Bial e visa galardoar jovens investigadores portugueses, até aos 35 anos de idade, através do apoio a projetos de investigação na área das ciências da saúde, que inclui um estágio num centro internacional de excelência.
Diogo Reis Carneiro, médico neurologista e investigador do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia e estudante de doutoramento e assistente convidado da Faculdade de Medicina da UC, vai desenvolver o projeto CaInPark – Interocepção cardiovascular: dos fundamentos neuroanatómicos à disrupção na doença de Parkinson, investigação que se centra no estudo da interocepção (a representação fisiológica e psicológica dos estados internos do corpo, incluindo a perceção do funcionamento dos seus órgãos, como o bater do coração ou o enchimento da bexiga) na doença de Parkinson.
“A interocepção cardiovascular poderá ser um marcador fisiológico e neural promissor da interação corpo-cérebro, por isso, neste projeto pretendemos aprofundar a compreensão da interocepção cardiovascular, caracterizando a sua base neurofuncional em indivíduos saudáveis e investigando as suas alterações em indivíduos com doença de Parkinson, aspetos que continuam a ser pouco conhecidos”, explica Diogo Reis Carneiro.
Sobre os impactos desta investigação, o investigador explica que “por um lado, pretendemos alargar o conhecimento sobre a disfunção interoceptiva na doença de Parkinson e relacioná-la à disfunção autonómica, mas também antevemos a possibilidade de lançar bases de conhecimento para que, no futuro, tratamentos de modulação interoceptiva (que ajudam a perceber melhor as sensações do corpo) possam ser utilizados, com substrato científico, numa população para a qual existem ainda muitas lacunas terapêuticas”.
O projeto CaInPark vai ser financiado com 25 mil euros, no âmbito do Prémio Maria de Sousa, e uma parte da investigação vai ser desenvolvida na Universidade Médica de Innsbruck (Medical University of Innsbruck), na Áustria.
Envelhecimento em destaque no Prémio Maria de Sousa
Neuza Domingues, investigadora do Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA Portugal) e do CiBB, vai conduzir o projeto Lisossomas nucleares: desvendar a comunicação entre lisossomas e o núcleo, que vai investigar o sistema de comunicação entre os lisossomas e o núcleo (compartimento celular de armazenamento de informação genética) procurando identificar as proteínas envolvidas neste contacto e compreender como influenciam a função destes dois organelos em condições de stress ou doença.
“Um dos organelos mais afetados durante o processo de envelhecimento celular é o lisossoma, que é essencial para a digestão de outros organelos e moléculas danificadas. Além desta capacidade de libertar as células de elementos tóxicos, o lisossoma modula vias de sinalização celulares, assim como a função e dinâmica de outros organelos”, explica Neuza Domingues.
“No entanto, apesar da comunicação de lisossomas com organelos como mitocôndrias e retículo endoplasmático estar bem estudada, pouco se sabe sobre a sua comunicação com o núcleo. Neste contexto, este projeto tem como objetivo investigar os mecanismos moleculares que regulam os contactos entre a membrana do lisossoma e a membrana do núcleo, a nível molecular e funcional”, esclarece.
Com esta investigação, Neuza Domingues espera “demonstrar que a disfunção concomitante de lisossomas e núcleo está associada à perda de comunicação entre estes dois organelos, resultando em alterações moleculares de membrana e maior instabilidade genómica. No futuro, a caracterização destas interações abrirá oportunidades terapêuticas para doenças do envelhecimento, desde a modulação da homeostasia até a entrega nuclear de agentes terapêuticos”.
O projeto de Neuza Domingues vai ser financiado, ao abrigo do Prémio Maria de Sousa, com 30 mil euros e parte da investigação vai decorrer na Universidade de Oxford, no Reino Unido.















