Os interesses comerciais, e não os interesses dos doentes, orientam frequentemente os cuidados e a investigação sobre o cancro e os doentes merecem melhor, defende um grupo de oncologistas e associações de doentes de todo o mundo, num comentário publicado na revista The Lancet Oncology. Os autores também estabelecem diretrizes fundamentais para o desenvolvimento de um novo movimento centrado no doente nos cuidados oncológicos – Common Sense Oncology.
O artigo afirma que, nas últimas décadas, tem havido uma passagem de ensaios clínicos predominantemente financiados pelo setor público, concebidos para responder a questões importantes para os doentes, para ensaios financiados pela indústria, que visam obter aprovação regulamentar ou vantagens comerciais.
Os autores afirmam que o controlo da indústria sobre a agenda de investigação criou um sistema predominantemente centrado em novos medicamentos contra o cancro, em detrimento da investigação de novas abordagens à cirurgia, radioterapia, cuidados paliativos e prevenção.
Os especialistas sublinham ainda que uma parte substancial das receitas da indústria é utilizada para campanhas de marketing destinadas a influenciar os doentes, os decisores políticos e os oncologistas, independentemente das necessidades clínicas.
Common Sense Oncology é o nome dado ao novo movimento lançado com a publicação deste artigo, que visa assegurar que os cuidados oncológicos e a inovação se centrem nos resultados que interessam aos doentes e não nos resultados comerciais. Os autores esperam educar e capacitar a próxima geração de oncologistas para que esta faça o melhor para os doentes através de três áreas-chave:
- Garantir que os ensaios clínicos utilizam e comunicam resultados importantes para os doentes;
- Fomentar o pensamento crítico entre os oncologistas, para que tomem decisões clínicas sólidas e alinhadas com os resultados que interessam aos doentes;
- Melhorar a compreensão das opções de tratamento do cancro por parte dos doentes, do público e dos decisores políticos.
Christopher Booth, especialista da Queen’s University em Kingston, no Canadá, afirma que “embora muitos tratamentos contra o cancro façam uma verdadeira diferença na vida dos doentes, existem preocupações crescentes quanto ao facto de alguns novos tratamentos não ajudarem os doentes a viver mais tempo ou a sentirem-se melhor. A Common Sense Oncology é uma iniciativa global, que dá prioridade às pessoas em detrimento dos lucros e promove a tomada de decisões partilhadas com os doentes”.
“A nossa visão é que os doentes tenham acesso a tratamentos contra o cancro que proporcionem melhorias significativas nos resultados que importam – independentemente do local onde vivem.”
