Cerca de um em cada três pais portugueses (32,9%) interpreta mal o peso dos filhos, revelam os dados de um estudo nacional.
Publicado na revista American Journal of Human Biology, o trabalho, realizado por Daniela Rodrigues, Aristides Machado-Rodrigues e Cristina Padez, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), revela que 30,6% subestimam o que pesam dos mais pequenos, enquanto 2,3% o sobrestimam.
Com o objetivo de avaliar se os pais têm noção de quanto pesam os filhos e, no caso de o subestimarem, se isso está associado ao risco de a criança ter quilos a mais/obesidade, o trabalho envolveu 793 pais e respetivos filhos, com idades compreendidas entre 6 e 10 anos.
“Verificámos que mais de 30% dos pais não identificou corretamente o estatuto nutricional dos filhos, sendo que a maior parte subestimou”, afirma Daniela Rodrigues, primeira autora do artigo e investigadora do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da FCTUC.
Uma subestimação que, acrescenta a mesma fonte, “foi substancialmente maior consoante o peso dos filhos, ou seja, vários pais com filhos com excesso de peso classificaram o peso dos filhos como normal e, principalmente, pais com crianças obesas reportaram que as crianças tinham apenas um pouco de peso acima do recomendado”.
Onde o peso é mais subestimado
Os especialistas nacionais conseguiram ainda perceber que é nas classes mais baixas que os pais mais subestimam o que pesam as suas crianças, sobretudo no caso das meninas: “ter pais com menor estatuto socioeconómico e mães com excesso de peso aumenta a probabilidade de subestimar o peso dos filhos, principalmente entre as raparigas”.
Mais ainda, “os pais que subestimam o peso dos filhos têm 10 a 20 vezes mais probabilidade de terem filhos com excesso de peso ou obesidade, o que tem sido associado a um conjunto de problemas de saúde física e mental, não só na infância mas que permanecem na idade adulta”.
É, por isso, “urgente ajudar os pais a identificar corretamente o excesso de peso e a obesidade dos filhos para que possam recorrer à ajuda dos profissionais de saúde e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida da criança”.
Como? Segundo a investigadora, o caminho começa com a alteração dos comportamentos de risco que conduzem a essa mesma obesidade, ou seja, dietas ricas em gorduras saturadas e açucares, inatividade física, comportamentos sedentários, etc.