A Universidade de Coimbra (UC) integra três projetos europeus que pretendem avançar com soluções inovadoras, usando tecnologia de ponta, para o tratamento de doenças cardiovasculares, de condições de saúde raras e de patologias do sistema nervoso.
As investigações querem avançar com novas abordagens terapêuticas para doenças prevalentes (como as cardiovasculares), para patologias ainda sem opções terapêuticas (o caso de várias doenças raras) ou com tratamentos limitados (como sucede com a lesão na espinal medula), com o objetivo de melhorar a investigação translacional, potenciando a replicação da ciência na prática clínica e, assim, melhorar a qualidade de vida de doentes, com tratamentos mais rápidos e eficazes para os seus problemas.
Os três projetos – intitulados “DREAMs”, “REBORN” e “Piezo4Spine” – são financiados pela Comissão Europeia, através do programa Horizonte Europa, tendo conquistado um valor global de financiamento de mais de 16 milhões de euros (mais de 7,7 milhões para o projeto “DREAMs”, cerca de 5 milhões para o “REBORN” e mais de 3,5 milhões para o “Piezo4Spine”).
Na Universidade de Coimbra, os projetos estão a ser desenvolvidos pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC-UC), através do grupo de investigação de Terapias Avançadas.
Os projetos, um a um
O projeto “DREAMS”, coordenado pelo Center for Stem Cell Studies (CECS, França) e que envolve nove parceiros, vai decorrer ao longo de cinco anos e pretende trazer novas respostas para os desafios científicos, financeiros e de regulação que afetam o campo da produção de medicamentos para doenças raras, muitas delas ainda sem opções de tratamento.
O investigador da Faculdade de Medicina da UC (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra) e líder do grupo de investigação de Terapias Avançadas do CNC-UC, Lino Ferreira, explica que esta investigação pretende “usar tecnologia de ponta para identificar formas de enfrentar os desafios científicos, de regulação e de financiamento que impactam a descoberta de medicamentos para doenças raras; e, ao fazê-lo, descobrir de forma mais rápida e económica tratamentos medicamentosos que possam ser reutilizados em várias doenças raras”.
Na área das doenças cardiovasculares, a Universidade de Coimbra integra também o projeto “REBORN – Remodelling of the infarcted heart: piezoelectric multifunctional patch enabling the sequential release of therapeutic factors”, coordenado pelo Politécnico de Turim (Itália) e que envolve 10 parceiros europeus.
Sendo as doenças cardiovasculares responsáveis por 3,9 milhões de mortes na Europa por ano, e face à limitada capacidade regenerativa do coração quando afetado negativamente por alterações estruturais e funcionais cardíacas, a equipa de investigação pretende, ao longo de quatro anos, “desenvolver um patch cardíaco inteligente e multifuncional, formado por materiais e moléculas capazes de estimularem o tecido cardíaco, que, quando aplicado na parte clínica, possa ajudar a prevenir significativamente a insuficiência cardíaca em pacientes que sobreviveram a enfartes agudos do miocárdio, reduzindo, assim, a mortalidade e melhorando a sua qualidade de vida”, contextualiza Lino Ferreira.
Denominado “Piezo4Spine – Piezo-driven theramesh: A revolutionary multifaceted actuator to repair the injured spinal cord”, o projeto coordenado pela agência estatal espanhola Conselho Superior de Investigações Científicas junta sete parceiros da Europa e pretende desenvolver uma nova terapia para a lesão na espinal medula.
Até ao momento, as opções terapêuticas para pessoas com esta lesão estão limitadas a tratamento sintomático. Para dar resposta à necessidade de um tratamento que promova a recuperação e não apenas o aligeiramento de sintomas, ao longo de quatro anos, a equipa de investigação pretende “fazer uso dos últimos avanços nas áreas da nanotecnologia, biologia molecular e engenharia de tecidos para criar uma malha 3D bio impressa (3D-theramesh), que possa ser capaz de fornecer à lesão diversos agentes de terapia génica e, assim, promover a recuperação funcional”, adianta o investigador da Universidade de Coimbra.
“A participação do grupo de investigação de Terapias Avançadas em três projetos internacionais, todos com início em 2023, é de uma grande responsabilidade, mas também uma excelente oportunidade para dar visibilidade à ciência básica e translacional que se faz no CNC-UC e FMUC”, remata Lino Ferreira. Os três projetos de investigação vão ainda contratar 10 cientistas ao longo dos próximos cinco anos.