São muitos os que se sentem invadidos pela tecnologia digital e pelas redes sociais. Alguns assumem o controlo e desligam. Outros nem por isso. Há uma especialista norueguesa que está a investigar o tema e que garante ser possível fazer o detox digital.
Não sabe que horas são. Pega no telefone para verificar e aproveita para ir ao Facebook. Passa depois os dedos pela aplicação que lhe dá o estado do tempo. Segue para as notícias; passa pelo Pinterest e pelo Twitter; regressa ao Facebook. Vinte minutos depois, guarda o telefone, sem saber porque é que pegou nele pela primeira vez.
Este é um cenário que muitos conhecem e muitos são também os que têm consciência de serem prisioneiros do telefone. Alguns assumem o controlo e desligam, tentando fazer aquilo que Trine Syvertsen, especialistas norueguesa, chama de detox digital.
“O termo foi usado pela primeira vez em 2010”, afirma a professora de Estudos de Media na Universidade de Oslo.
“Na última década, o termo tem sido usado com mais frequência, paralelamente ao aumento da digitalização pública e privada.”
Desligar, de acordo com Syvertsen, é uma resposta à constatação de que as redes sociais ocupam cada vez mais espaço nas nossas vidas.
“Tornou-se normal sentir-se oprimido. Olhando para a história dos media, isso não é novidade: tanto o telégrafo, como mais tarde a televisão foram esmagadores no início. A principal diferença é que estamos quase sempre ligados”, explica.
Um projeto para desintoxicar
No projeto de investigação Digitox, Trine Syvertsen e os colegas estudam como, enquanto indivíduos e sociedade, entendemos e lidamos com as tecnologias cada vez mais invasivas.
Ainda que esteja apenas no início, o projeto já permitiu a formulação de algumas hipóteses. Uma é que indivíduos que desejam desligar podem ser divididos em dois grupos.
“Um grupo basicamente não está interessado em desligar-se das redes sociais, mas ainda tenta controlar o tempo que passa online. Podem ser profissionais que estão cansados de se distraírem dos seus deveres, ou pessoas que estão cansadas dos seus telefones e optam por os deixar em casa”, descreve.
O outro grupo é composto por aqueles que desejam claramente reduzir o tempo gasto nas redes sociais. “Falam sobre estar desligados durante uma semana, um mês ou um ano. Isso pode envolver a exclusão de redes sociais como o Facebook, a limitação do acesso à Internet ou a interrupção da verificação de notícias online.”
Razões para desligar
Syvertsen vê três razões principais pelas quais as pessoas querem fazer o detox digital. A primeira é a presença: a tecnologia foi projetada para arrastá-lo para o mundo digital e o simples facto de o telefone estar próximo afeta muitos.
Segue-se a concentração e produtividade: a verificação móvel constante significa que muitas pessoas não conseguem fazer trabalhos escolares, concentrar-se no trabalho, ler um livro ou ler um artigo de jornal. Existe uma relação ambivalente com as redes sociais, já que o telemóvel também é uma ferramenta útil em muitos contextos, tornando-se fonte de trabalho e entretenimento, mas também gerador de interrupções.
A vida privada e proteção da privacidade é a terceira razão. Muitas pessoas querem partilhar menos dados pessoais e afirmam querer ainda evitar partilhar a sua vida privada ou ficar tão próximos dos outros.
Motivos que acabam por se sobrepor. “Digamos, por exemplo, que está ao ar livre. Quer estar presente, mas depois pega no telefone para tirar uma fotografia porque está no pico de uma montanha. Em seguida, distrai-se com algo no telefone e começa a ver as fotos de outras pessoas em vez de olhar para a natureza. Pára de estar presente, perde a concentração e aproxima-se da vida privada de outra pessoa.”
A melhor forma de fazer o detox digital
A boa notícia é que há formas de desligar e fazer a desintoxicação digital. A começar pela definição de uma quota de tempo nas redes sociais, à qual se junta a limitação do uso do tempo com aplicações.
Concorde em criar zonas livres de telemóvel – por exemplo, na mesa de jantar e deixe o telemóvel de lado por um determinado período – algumas horas, um dia ou um fim de semana.