As bebidas energéticas têm vindo a ganhar popularidade ao longo dos anos, com novas marcas e sabores sazonais constantemente lançados no mercado. Apesar da sua popularidade, as bebidas energéticas não são recomendadas como parte de uma dieta saudável. “Estamos sobrecarregados com opções de bebidas em supermercados e lojas de conveniência, dificultando a escolha de bebidas mais saudáveis, sobretudo para crianças e adolescentes”, afirma Amy Piacente-Desch, Senior Prevention Manager do Instituto de Saúde para Prevenção e Recuperação RWJBarnabas.
Ao contrário de outras bebidas com cafeína, como o café ou os refrigerantes, as bebidas energéticas contêm frequentemente níveis mais elevados de cafeína, alto teor de açúcar, estimulantes à base de plantas (como o guaraná e o ginseng) e adoçantes artificiais. A combinação destes ingredientes pode representar potenciais riscos para a saúde de crianças e adolescentes.
Clara Coda, médica de Medicina Interna e Pediatria no RWJBarnabas Health Medical Group, afirma que as bebidas energéticas representam problemas de saúde cardiovascular (coração) e neuropsiquiátrica (cérebro) para as crianças e adolescentes. “Estas bebidas podem aumentar a pressão arterial mesmo em crianças saudáveis e podem revelar problemas cardíacos subjacentes, como ritmos cardíacos anormais.”
Devido ao seu elevado teor de açúcar, as bebidas energéticas podem também contribuir, no futuro, para o risco de obesidade, resistência à insulina, diabetes e cáries. Além disso, os estimulantes à base de plantas frequentemente encontrados em muitas bebidas energéticas aumentam a exposição à cafeína, e os adoçantes artificiais e outros aditivos têm efeitos desconhecidos a longo prazo nas crianças.
Coda alerta ainda os pais e encarregados de educação que estas bebidas podem levar a um menor desempenho escolar, incluindo notas mais baixas e aumento de faltas, devido aos seus potenciais efeitos na saúde. Além disso, o risco aumentado de ritmos cardíacos anormais (arritmias) e hipertensão torna estas bebidas um substituto inadequado para a água ou bebidas desportivas com baixo teor de açúcar.
Bebidas energéticas e uso de substâncias
As bebidas energéticas também apresentam riscos para a saúde mental das crianças ou adolescentes. Coda afirma que “as bebidas energéticas podem aumentar a ansiedade, a depressão, os comportamentos de pânico, causar distúrbios do sono e aumentar o risco de sintomas de défice de atenção e hiperatividade”.
Estes sintomas podem contribuir para o baixo desempenho académico e aumentar os comportamentos de risco, incluindo o uso de substâncias ilícitas e o uso problemático das redes sociais/internet.
“Embora o consumo de bebidas energéticas não esteja diretamente ligado ao uso de substâncias, sabemos que os indivíduos usam frequentemente substâncias para tentar reduzir ou mascarar sintomas de saúde mental, os quais o consumo de bebidas energéticas pode aumentar. E, quando uma pessoa se envolve num comportamento de risco, isso pode diminuir as inibições e torná-la mais propensa a envolver-se noutras formas de risco.”
Além disso, o aumento do uso das redes sociais e da internet pode levar à exposição a conteúdos nocivos, bem como prejudicar a participação saudável em atividades extracurriculares e o bem-estar geral. “A internet e as redes sociais não foram concebidas a pensar nas crianças. Os pais e os encarregados de educação devem estar atentos ao tempo que os seus filhos passam nestas plataformas, ao conteúdo que consomem e às interações que têm”, afirma Piacente-Desch.
Estratégias para escolhas mais saudáveis
As bebidas energéticas não são apenas uma preocupação de saúde para crianças e adolescentes; há também um aspeto social envolvido. “Para as crianças e adolescentes, parte do fascínio das bebidas energéticas é o design dos produtos — as cores vibrantes, nomes divertidos, sabores sazonais”, afirma Piacente-Desch. Estes designs podem enganar qualquer pessoa, mas sobretudo os mais pequenos, que são menos propensos a verificar o rótulo de um produto para saber os seus ingredientes e informações nutricionais.
“Há também uma vertente de grupo no consumo destas bebidas: as crianças e os adolescentes veem os seus amigos ou colegas de turma a beber estas bebidas na escola ou durante atividades extracurriculares e não querem sentir-se excluídos”, explica Morgan Durant, especialista em prevenção do Instituto de Saúde para Prevenção e Recuperação RWJBarnabas. O medo de ficar de fora pode ser muito persuasivo, sobretudo para as crianças e adolescentes que desejam partilhar um sentimento de pertença com os seus pares.
No trabalho de prevenção, o objetivo é minimizar o risco e a exposição. Devido à prevalência das bebidas energéticas, é muito provável que as crianças já conheçam pelo menos algumas marcas de vista, se não de nome. É por isso que os pais e os encarregados de educação devem ter conversas abertas e honestas com os seus filhos sobre os riscos associados às bebidas energéticas. Não presuma que eles conhecem os riscos ou as suas expectativas se não as comunicou.
Piacente-Desch partilha estas dicas para pais e encarregados de educação:
- Estabeleça expectativas claras. Comunique as escolhas que pretende que o seu filho faça e porquê. Deixe espaço para conversas e perguntas.
- Abasteça-se de bebidas mais saudáveis. Uma das formas mais fáceis de evitar que o seu filho beba bebidas energéticas é simplesmente não as comprar. Em vez disso, pode optar por manter águas aromatizadas ou bebidas desportivas com baixo teor de açúcar em stock em casa.
- Seja um exemplo de bom comportamento. As crianças tendem a imitar o comportamento que veem à sua volta. Ao limitar o seu próprio consumo de bebidas energéticas, está a ajudar a demonstrar melhores escolhas para o seu filho.
Falar com o seu filho ou adolescente sobre bebidas energéticas pode também abrir caminho para outras conversas relacionadas com substâncias, como o álcool, a canábis e outras drogas ilícitas. “O objetivo é sempre uma comunicação aberta e honesta. Se o seu filho se sentir seguro ao falar consigo sobre bebidas energéticas, é mais provável que se abra sobre outras preocupações”, acrescenta Piacente-Desch.















