As crianças portuguesas em idade pré-escolar, até aos cinco anos, passam em média mais de uma hora e meia (154 minutos) por dia em frente à televisão e de outros ecrãs, revela um estudo nacional sobre o tema.
Publicado na revista científica BMC Public Health e realizado por uma equipa de investigadores do CIAS – Centro de Investigação em Antropologia e Saúde, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), o trabalho quis avaliar o tempo que os mais pequenos passam à frente de diferentes ecrãs dos equipamentos eletrónicos, como televisão, computador, consolas de jogos, tablets e os smartphones e, ao mesmo tempo, determinar as diferenças no uso de acordo com o sexo, a idade das crianças e a posição socioeconómica das famílias.
Foram, ao todo, avaliados os hábitos de 8.430 crianças, com idades compreendidas entre os três e os 10 anos, de Coimbra, Lisboa e Porto, tendo os dados sido recolhidos em 118 escolas públicas e privadas.
E confirma-se que o tempo em frente ao ecrã é maior nas crianças mais velhas, sobretudo devido ao maior tempo gasto em dispositivos eletrónicos, como computadores, videojogos e tablets: “aproximadamente 201 minutos por dia”.
“Concluímos que a maior parte das crianças, principalmente entre os meninos, excede as recomendações de tempo de ecrã indicadas pela Organização Mundial de Saúde e pela Associação Americana de Pediatria, em que o tempo de ecrã deve ser limitado a uma hora (em crianças até aos cinco anos) ou duas horas por dia (em crianças acima dos seis anos)”, afirma Daniela Rodrigues, primeira autora do trabalho.
Horas a mais agarrados aos ecrãs
A televisão ocupa o primeiro lugar do top dos equipamentos mais usados. No entanto, de acordo com a investigadora, “o uso de tablets está generalizado e o tempo gasto neste equipamento é elevado, incluindo em crianças com três anos”.
Tempo que, acrescenta, “é sempre mais elevado em crianças de famílias de menor posição socioeconómica, independentemente da idade, sexo, ou do tipo de equipamento”.
Tendo em conta que o tempo de ecrã está associado a um impacto negativo na saúde das crianças, por exemplo, menor tempo e qualidade do sono, maior atraso no desenvolvimento cognitivo e da linguagem, excesso de peso, etc., estes resultados “indicam que é necessário um maior controlo por parte dos pais no acesso que as crianças têm aos equipamentos eletrónicos”.
Um “panorama é ainda mais preocupante numa altura em que, devido à pandemia de COVID-19, as crianças estão obrigadas a passar mais tempo em casa, e precisam de recorrer a alguns destes equipamentos para aceder à telescola”.
Por isso, Daniela Rodrigues considera “fundamental identificar os subgrupos de risco e identificar como cada dispositivo é usado de acordo com a idade, para permitir futuras intervenções apropriadas. Os pais devem ter em mente que as crianças passam a maior parte do tempo a ver televisão, mas os dispositivos móveis estão a tornar-se extremamente populares a partir de tenra idade”.