O que é que o tempo tem a ver com as nossas dores? Um estudo britânico garante, em dias mais húmidos, as pessoas com problemas de saúde a longo prazo têm uma probabilidade 20% superior de ter mais dor.
Baseado na experiência de pessoas com doenças como artrite, fibromialgia, enxaqueca e dor neuropática em todo o Reino Unido e realizado por especialistas da Universidade de Manchester, o estudo, chamado ‘Cloudy with a Chance of Pain’, ou em bom português, ‘Nublado com Probabilidade de Dor’, foi realizado ao longo de 2016 com mais de 13.000 pessoas.
E, segundo este, o fator mais importante associado ao agravamento da dor é a elevada humidade relativa.
Usando uma aplicação para smartphone desenvolvida pela empresa de software de saúde uMotif, os participantes registaram os seus sintomas diários, ao mesmo tempo que o estado do tempo local era determinado a partir dos dados de localização fornecidos pelo GPS do aparelho.
Dias mais húmidos, maior a dor
O estudo revela que os dias húmidos são aqueles em que é mais provável aumentar a dor, ao contrário dos mais secos. Uma pressão atmosférica mais baixa e uma maior velocidade do vento foram também associadas a dias mais dolorosos, embora em menor grau que a humidade.
Apesar de muitas pessoas acreditarem que a dor é influenciada pela temperatura, não houve associação observada quando a média foi calculada em toda a população.
Dito isto, dias frios que também eram húmidos e com muito vento podem ser mais dolorosos, mas a chuva não foi associada à dor.
Embora se saiba que o clima influencia o humor e o humor pode influenciar a dor, esse caminho não explica os resultados. Mesmo ao considerar o humor, a associação clima-dor persistiu.
“Pensa-se que o tempo afeta os sintomas em doentes com artrite desde Hipócrates. Cerca de três quartos das pessoas que vivem com artrite acreditam que a sua dor é afetada pelo clima”, refere Will Dixon, professor do Centro de Epidemiologia Versus Artrite da Universidade de Manchester, que liderou o estudo.
No entanto, apesar de muitas investigações terem examinado a existência e a natureza desse relacionamento, ainda não há consenso científico. “Esperávamos que os smartphones nos permitissem progredir mais, recrutando muito mais pessoas e rastreando os sintomas diários ao longo das estações”, acrescenta.
“A análise mostrou que, em dias húmidos e ventosos com baixa pressão, a probabilidade de sentir mais dor, em comparação com um dia normal, era de cerca de 20%.”
E qual é, afinal, a importância de resultados como este? De acordo com o especialista, podem ser importantes por duas razões: “dado que podemos prever o clima, pode ser possível desenvolver uma previsão da dor sabendo a relação entre clima e dor. Isso daria às pessoas que sofrem de dor crónica a possibilidade de planearem as suas atividades, realizando tarefas mais difíceis nos dias previstos com níveis mais baixos de dor. O conjunto de dados também fornecerá informações aos cientistas interessados em entender os mecanismos da dor, que podem finalmente abrir as portas para novos tratamentos”.