Algumas mulheres com endometriose passam um mês de cada ano com tantas dores que pouco mais podem fazer do que suportá-las. “Estamos a falar de dores que impedem as pessoas de viverem as suas vidas”, afirma Kristin Riley, líder da Divisão de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva do Penn State Health Milton S. Hershey Medical Center, habituada a ouvir histórias sobre dor todos os dias. Quando estas histórias envolvem endometriose e dor pélvica crónica, a dor varia de suportável a excruciante, ou seja, de nada de especial a circunstâncias em que sair de casa ou mesmo sair da cama não é uma opção. Uma viagem longa e dolorosa.
Durante dias, todos os meses, “o tempo vai-se acumulando”, refere Riley. E, no caso da endometriose, ainda não foi encontrada uma cura. A doença, que ocorre quando uma variedade de tecido encontrado no útero cresce nos ovários, nos intestinos, na bexiga ou noutro local, afeta cerca de 190 milhões de mulheres em todo o mundo.
A boa notícia é que os profissionais de saúde se tornaram hábeis em diminuir a agonia que ela causa. Hoje em dia, se sofre de endometriose ou de dores pélvicas crónicas, tem uma grande variedade de opções à sua escolha, que incluem algumas orientadas para o tipo muito específico de dor. “Não se trata de uma abordagem de tamanho único”, afirma Riley. “É muito individualizada.”
Comprimidos, cremes, dietas, opções holísticas, são várias as opções, aqui partilhadas pela especialista. Mas tudo começa, aconselha, com uma conversa com o seu médico. Muitas mulheres sentem algumas dores durante o período, o que não significa necessariamente que haja um problema. Mas quando a dor se torna debilitante, então deve falar com um médico, a quem cabe avaliar como é que é a dor, de onde vem e o que impede de fazer.
“Algumas pessoas têm uma dor tipo cãibra”, diz Riley. “Outras têm dores agudas nos nervos ou dores musculares. Algumas têm algo que começa por ser uma dor menstrual grave e depois passa para outros órgãos – dor gastrointestinal, dor na bexiga, dor na parede abdominal, dor nas costas – ou todas essas coisas.”
Muitas vezes, a primeira linha de defesa é a toma de medicamentos para diminuir a inflamação, afirma Riley, mas uma doença como a endometriose é tão específica de cada pessoa que não existe um comprimido para tudo.
Nem existe um diagnóstico simples, com um exame de sangue. Atualmente, o diagnóstico definitivo só pode ser feito através de uma cirurgia laparoscópica. E, devido à variedade de sintomas e ao método de diagnóstico, as doentes podem demorar entre sete a dez anos a obter um diagnóstico. A cirurgia para remover a endometriose pode ser útil, mas não é considerada uma cura.
Isso não significa que tenha de sofrer durante anos antes de poder fazer alguma coisa. Estão a surgir regularmente mais opções para tratar o desconforto. “As pessoas querem tratar as suas crises de dor em casa”, afirma Riley. “Não querem ir a um serviço de urgência. Querem poder ter em casa uma lista de terapias que as possam ajudar.”
Opções para a dor na endometriose
Os órgãos da pélvis funcionam todos numa cavidade com cerca de cinco centímetros de largura. Quando um órgão está inflamado, o problema não tem de se deslocar para afetar outros órgãos, pelo que as mulheres com dores de endometriose têm frequentemente dores na bexiga ou nos intestinos. Por vezes, também sentem dores nas relações sexuais e descobrem problemas de infertilidade.
Esses mesmos órgãos afetados pela endometriose podem causar crises de dor relacionadas com a mesma. Riley vê, por vezes, doentes que comeram demasiado da coisa errada, mas a dor que sentem devido a um problema gastrointestinal faz com que o desconforto da endometriose se manifeste. É por isso que é tão importante ter opções, afirma.
Ao considerar o que é correto para si, os médicos têm muito em que pensar. Por exemplo, digamos que está a tomar um medicamento para tratar a depressão. Existe algum antidepressivo ligeiramente diferente que possa tratar a dor da endometriose ao mesmo tempo? Além disso, pode ser menos provável que o seu médico prescreva um medicamento com efeitos sedativos se alguém já estiver a tomar um medicamento com essas mesmas propriedades.
Não se pode escolher um único remédio. Em vez disso, alguns medicamentos ou procedimentos complementam-se uns aos outros e contribuem para a melhor solução, refere Riley.
Terapias hormonais – Algumas doentes consideram que a utilização de terapia hormonal para suprimir os períodos menstruais é útil para conter a dor da endometriose. O estrogénio pode abrandar o crescimento do tecido fora do útero e controlar a dor relacionada com os períodos, que podem causar crises associadas à endometriose.
Medicamentos anti-inflamatórios e para a dor neuropática – Os médicos utilizam frequentemente medicamentos que visam especificamente a dor. Os medicamentos para a dor neuropática têm como alvo os nervos que transmitem a dor ao cérebro e são, por vezes, utilizados para fins de saúde mental. Já os medicamentos anti-inflamatórios, diminuem o inchaço e reduzem a dor. Tanto os medicamentos neuropáticos como os anti-inflamatórios podem ser eficazes, mas podem ter efeitos secundários que deve conhecer. “Temos alguns doentes que são tratados com eles para a dor crónica”, refere Riley. Os opiáceos podem ter efeitos secundários intensos e são altamente viciantes. Além disso, amortecem a mente “para que não se importe com a dor”, em vez de reduzirem a inflamação ou de se dirigirem ao que está realmente a causá-la.
Mas há outros remédios, como o Canabidiol (CBD) – Uma variedade de produtos, desde cremes a comprimidos e gotas de óleo, comercializados como analgésicos para pessoas com endometriose estão a aparecer por todo o lado. Alguns pacientes e médicos dizem que os medicamentos são opções eficazes, mas a maioria não foi testada, explica Riley.
O CBD parece oferecer alívio com relativamente poucos efeitos secundários, segundo a especialista Riley. Os investigadores, incluindo profissionais de saúde da Penn State Health e da Penn State College of Medicine, estão a estudar a sua eficácia, mas se procura provas, ainda não há muitas disponíveis.
Estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) – Alguns doentes encontram alívio através de uma corrente elétrica ligeira, passada através de cabos ligados aos músculos. A prática relaxa os tecidos e diminui a dor, afirma Riley.
Ioga, meditação consciente, dieta – Segundo Riley, os médicos e os doentes estão a ver alguns benefícios em fontes holísticas e orientais. Um estudo de 2023, do National Institutes of Health, concluiu que uma aula de ioga especialmente destinada a doentes com endometriose ajudou a diminuir a dor e o stress. O mindfulness, que envolve a respiração, também pode funcionar para reduzir a dor.
E depois há quem encontre alívio com mudanças na dieta. Os alimentos podem desencadear reações gastrointestinais que podem criar crises de dor relacionadas com a endometriose. “Algumas doentes estão a cortar nos lacticínios, nas carnes vermelhas, nos alimentos processados e nos alimentos com elevado teor de açúcar”, afirma Riley.