Scroll Top

Dor e desconforto na prática de exercício físico: o que é normal?

prática de exercício físico e dor

Setembro marca o regresso às rotinas e para aqueles que também deram férias à prática de exercício físico, é ainda tempo de regresso ao ginásio ou às corridas. É para estes que alerta Francisco Guerra Pinto, ortopedista do Hospital Cruz Vermelha: “qualquer tipo de exercício físico pode causar dores se o atleta não estiver preparado”.

“É extremamente importante entender que o desporto é saúde quando causa um cansaço apenas ligeiro, transitório e potencia uma resposta adaptativa favorável.”

Quando assim não é, podem surgir queixas “que indicam a existência de algum tipo de lesão irreversível”. Ou seja, para os corredores em boa forma, habituados a fazer maratonas, “uma corrida de 5 kms estará na sua zona de conforto”. Logo, “esse tipo de cargas não causa nenhuma resposta adaptativa nem causará desconforto”.

O cenário muda se pensarmos em alguém que acaba de iniciar a prática de exercício físico, tendo por hábito correr 3 kms em dias alternados.

“Se aumentar a distância para 5 kms poderá ter, no início, algumas dores musculares e articulares. Estas queixas podem ser interpretadas como normais pelo aumento da carga e deverão resolver-se em poucos dias, traduzindo, provavelmente, uma resposta adaptativa do organismo”, refere o médico.

Já se a pessoa nunca correu ou praticou desporto e decidir aventurar-se numa corrida de 5 kms, tendo conseguido, com muito esforço, chegar ao fim, algo que se fez acompanhar de desconforto e dores dos joelhos que duram há várias semanas, “este tipo de situação não é normal e pode indicar a existência de uma lesão causada pela sobrecarga. Esta história relembra que todos nós podemos ser arrastados para níveis de atividade que ultrapassam a nossa prática habitual”.

Dores na sequência da prática de exercício físico

Na presença de dores no joelho, “é importante considerar o contexto. No caso da corrida causar queixas importantes e limitantes que durem mais de que um ou dois dias, deve interromper-se a atividade física e equacionar uma consulta com um médico com diferenciação neste campo – ortopedia, fisiatria ou medicina desportiva”.

Situação diferente de uma queixa, explica o médico, “ou dor que tenha início após uma pancada ou um entorse. Estas situações são designadas de ‘traumáticas’ e têm uma maior probabilidade de indicar uma lesão desportiva. Pode acontecer em qualquer nível de performance do atleta e devem ser avaliadas por um médico para um diagnóstico mais preciso”.

Francisco Guerra Pinto refere que “o corpo  humano foi projetado para podermos andar e correr. As nossas articulações têm um sistema de amortecimento integrado, a cartilagem, que está preparada para os impactos da corrida. Por isso, não se poderá linearmente dizer que a corrida, por si, tem um elevado impacto físico”.

O especialista acrescenta que “a cartilagem é fortalecida pela corrida, exercício físico e desporto regrados. Parte da diversão de qualquer desporto é a sensação de progressão. O que não conseguimos fazer hoje poderemos fazer dentro de alguns meses, se respeitarmos os nosso limites e prestarmos atenção aos sinais de desconforto do nosso corpo. De uma maneira geral, a cartilagem agradece que não tenhamos atividade de impacto todos os dias”.

De resto, refere, “o tempo de recuperação das pessoas depende da sua genética e da intensidade do treino. Apesar disso, é útil considerar que o corpo demora cerca de 48 horas a recuperar de alguma sobrecarga desportiva”.

Consultar um médico: sim ou não?

Se está a pensar começar agora a prática de exercício físico, como a corrida, não terá necessariamente de consultar um médico. “Pessoalmente considero que as pessoas saudáveis não precisam de qualquer tipo de autorização para começarem a fazer desporto.”

Mas se houver “pressentimento de que se fará um esforço muito acima da nossa atividade habitual, então é provável que seja mesmo um esforço demasiado. A maior parte das pessoas têm sensatez e capacidade de análise para não exagerar nas primeiras sessões”.

Já no caso das pessoas com patologia cardiovascular ou respiratória descompensada, estas “devem ser otimizadas pelo seu médico assistente que, provavelmente, lhes pedirá uma prova de esforço. O ortopedista deve ser considerado como o médico a quem se recorre quando há lesão, um problema consistente da ‘estrutura’, que se traduz em sintomas como dor, aumento de volume ou instabilidade de uma articulação ou segmento”.

Related Posts