As armas usadas na luta contra a obesidade têm sido muitas e diferentes. Mas o aumento do número de pessoas que, em todo o mundo, vivem com peso a mais e as consequências individuais e para a sociedade das dietas desregradas, têm levado diferentes instituições, como a Organização Mundial da Saúde, a pedir mais. Agora, um novo estudo confirma que taxar os produtos de pastelaria teria substancialmente mais impacto sobre a variação de peso nos adultos do que o imposto que, de forma semelhante, levou ao aumento de preço das bebidas açucaradas.
Contas feitas, este aumento pode reduzir a ingestão de energia e o Índice de Massa Corporal (IMC) para mais do que o dobro do observado com a taxa aplicada aos refrigerantes.
Desde 1975 que a prevalência mundial de obesidade triplicou em todo o mundo, de acordo com dados publicados na revista científica The Lancet. Em Portugal, os números da Direção-Geral da Saúde confirmam a dimensão do problema: 57% dos adultos nacionais apresentam excesso de peso, o que inclui a pré-obesidade e a obesidade, ou seja, 5,9 milhões de pessoas.
Daqui surgem encargos sociais, económicos e de saúde, que justificam o uso da política fiscal para melhorar a dieta e a saúde: ao mesmo tempo que altera as compras dos consumidores, incentiva os fabricantes e produtores a reformularem ou aumentarem a disponibilidade de opções mais saudáveis. Além disso, a tributação gera receita que, teoricamente, pode ser gasta em cuidados e promoção da saúde.
Mas até aqui as estratégias de tributação para reduzir o consumo de açúcar e energia têm-se concentrado nas bebidas açucaradas.
No entanto, os especialistas consideram que os lanches com alto teor de açúcar, como os produtos de pastelaria, podem gerar uma contribuição mais substancial para a ingestão de açúcares e energia livres do que as bebidas açucaradas. E foi isso que pretenderam provar.
Os efeitos num aumento do preço dos produtos de pastelaria
O novo estudo, publicado no British Medical Journal, teve por base um conjunto de dados de 36.324 famílias do Reino Unido, e partiu do princípio, confirmado pela ciência, que a ingestão excessiva de açúcares aumenta o risco de obesidade.
Pauline F. D. Scheelbeek, investigadora da London School of Hygiene and Tropical Medicine e os colegas debruçaram-se sobre o tema e concluem que aumentar o preço dos lanches açucarados pode ser mais eficaz na redução da massa corporal.
Para um aumento de 20% no preço, reduz-se o consumo de energia, estimando-se uma também redução no IMC que chega aos 0,53. Uma mudança que, de acordo com os cientistas, pode reduzir, no prazo de um ano, a prevalência de obesidade no Reino Unido em 2,7 pontos percentuais.
“A nossa análise fornece aos formuladores de políticas estimativas da magnitude relativa do impacto de um cenário de aumento de preços dos lanches com elevado teor de açúcar. E sugere que essa opção seja digna de mais investigação e considerações, como parte de uma abordagem integrada para combater a obesidade”, lê-se no documento.