É a principal causa de incapacidade em todo o mundo, afetando qualquer coisa como 540 milhões de pessoas. Mas nem por isso os doentes que sofrem com dor lombar têm sido bem tratados, revela um conjunto de artigos publicados no The Lancet, que destaca que os tratamentos contrariam, muitas vezes, as diretrizes e as melhores práticas definidas.
Uma realidade partilhada um pouco por todo o mundo, onde o uso excessivo de testes e tratamentos desadequados, como opioides e cirurgias, significam que os doentes não estão a receber os cuidados devidos, com consequente desperdício de recursos.
Apesar da evidência sugerir que a dor lombar deve ser tratada nos cuidados primários, devendo a primeira linha de cuidados ser a educação e os conselhos no sentido de uma vida ativa, é elevada a percentagem de doentes que, em todo o mundo, são tratados nas urgências, encorajados a descansar e parar de trabalhar, sendo comuns as referenciações para cirurgia ou a prescrição de analgésicos, incluindo opioides, desnecessariamente.
“A maioria dos casos de dor lombar responde a terapias físicas e psicológicas simples, que mantêm as pessoas ativas e permitem que permaneçam a trabalhar”, explica a propósito a autora do trabalho, Rachelle Buchbinder, da Universidade de Monash, na Austrália. “Muitas vezes, no entanto, são os tratamentos mais agressivos, com benefício duvidoso, que são promovidos e reembolsados.”
O trabalho analisa os dados de países mais e menos desenvolvidos, revelando que muitos dos erros cometidos nos países mais ricos já estão estabelecidos nas nações mais pobres.
A dor lombar resulta, nos EUA, em 2,6 milhões de visitas às urgências por ano, com elevadas taxas de prescrição de opioides. A este facto junta-se outro: apenas cerca de metade das pessoas com dor crónica nas costas foram aconselhadas a praticar exercício. Já na África do Sul, estudos verificaram que 90% dos doentes receberam medicamentos para a dor como única forma de tratamento.
“Em muitos países, os analgésicos que têm um efeito positivo limitado são rotineiramente prescritos para a dor lombar, com pouca ênfase nas intervenções baseadas em evidências, como o exercício”, confirma Nadine Foster, da Keele University, no Reino Unido.
Principal causa de incapacidade
O estudo Global Burden of Disease (2017) verificou que a dor lombar é a principal causa de incapacidade em quase todos os países mais ricos, assim como na Europa Central, Oriental, África do Norte e Médio Oriente e em várias zonas da América Latina. Todos os anos, um milhão de anos de vida produtiva são perdidos no Reino Unido por incapacidade associada à dor lombar; três milhões nos EUA e 300 mil na Austrália.
E o peso global da incapacidade devido à dor lombar aumentou em mais de 50% desde 1990 e deve aumentar ainda mais nas próximas décadas, à medida que a população envelhece.
De acordo com os autores deste estudo, os sistemas de saúde devem evitar tratamentos nocivos e inúteis, limitando-se a oferecer tratamentos com reembolso público se a evidência demonstrar que são seguros, eficazes e económicos. Destacam ainda a necessidade de eliminar equívocos generalizados na população e entre os profissionais de saúde sobre as causas, o prognóstico e a eficácia de diferentes tratamentos para a dor lombar.
“Milhões de pessoas em todo o mundo estão a receber cuidados errados para a dor lombar. A proteção do público contra abordagens não comprovadas ou nocivas para gerir este problema exige que os governos e os líderes de saúde abordem estratégias de reembolso enraizadas e contraproducentes, interesses adquiridos e incentivos financeiros e profissionais que mantêm o status quo”, refere Jan Hartvigsen, da Universidade da Dinamarca do Sul.
“Os financiadores devem pagar apenas por cuidados de elevado valor, parar de financiar testes e tratamentos ineficazes ou prejudiciais, e intensificar a investigação sobre a prevenção, melhores testes e melhores tratamentos.”