
As mulheres ainda enfrentam inúmeras barreiras no acesso a carreiras de topo e cargos de decisão. Mesmo com mais habilitações do que os homens, ainda assim estão claramente sub-representadas nos processos de tomada de decisão, algo bastante visível na área da saúde, predominantemente feminina (as mulheres representam 75% do total da força de trabalho), mas onde elas ocupam pouco mais de um terço dos lugares de liderança.
As barreiras no acesso a carreiras de topo e cargos de decisão, que continuam a ser muitas, são a principal justificação, apesar delas terem mais habilitações do que os homens. A isto junta-se ainda a falta de literacia, de políticas de igualdade de género ou de medidas de tolerância zero para bullying e assédio moral e sexual no local de trabalho.
Medidas que as 30 mulheres de várias gerações com experiência de liderança na Saúde, embaixadoras do Movimento LIFE, apresentaram na sequência de uma primeira reflexão, em que foram analisadas as razões históricas e atuais para estarmos distantes da igualdade de género e debatidas estratégias de desenvolvimento para criar um futuro melhor para as novas gerações.
Estas e outras conclusões de duas análises foram agora divulgadas. Um dos estudos foi realizado pela Faces de Eva: Estudos sobre a Mulher/CICS.NOVA (NOVA-FCSH) e outro pela consultora GFK/Metris, também com base na auscultação de algumas dezenas de mulheres com experiência de liderança na Saúde.
As duas análises apontam para a necessidade de se conhecer a realidade do setor da Saúde em Portugal, uma vez que só o conhecimento detalhado da realidade pode dar visibilidade ao problema da desigualdade de género e permitir definir linhas de atuação concretas que mudem a realidade para as gerações futuras.
Segundo a análise da GFK/Metris, há muita informação e múltiplas estatísticas, mas são dados desagregados e não sistematizados que dificultam uma compreensão profunda da realidade. No fundo, há muita informação e pouco conhecimento.
Por isso mesmo, o Movimento LIFE vai promover a realização de um estudo que ausculte as mulheres e homens com menos de 40 anos que trabalham no setor da Saúde em Portugal. A ideia, a par de ter maior conhecimento da realidade, é permitir um retrato dos entraves ou impulsos que as mulheres mais jovens sentem atualmente na sua progressão de carreira e no caminho para a liderança. O intuito é também recolher contributos de todos sobre medidas ou políticas que possam ser promotoras da igualdade de género.
O Movimento promoveu já uma primeira reflexão com cerca de 30 mulheres de várias gerações com experiência de liderança na Saúde, que são Embaixadoras deste Movimento. Foram analisadas as razões históricas e atuais para estarmos distantes da igualdade de género e debatidas estratégias de desenvolvimento para criar um futuro melhor para as novas gerações.
Dessa sessão de trabalho resultaram algumas recomendações:
– A educação é a chave para uma paridade efetiva: é necessário promover a literacia, educação e formação em direitos humanos e igualdade de género, desde a escola primária até às universidades;
– O Governo deve integrar a perspetiva de género em todas as suas políticas, na administração pública, nos orçamentos do Estado e na gestão financeira;
– As empresas devem definir métricas de diversidade e inclusão, fazendo a sua constante avaliação e divulgando-as publicamente;
– É urgente instituir medidas de tolerância zero para bullying e assédio moral e sexual no local de trabalho;
– É necessário criar programas de mentoria e de empoderamento das mulheres, promovendo redes de apoio, formal e informal, e programas destinados acompanhamento individual;
– É fundamental dar visibilidade pública às mulheres e à temática das desigualdades de género.
“A igualdade de género é um assunto que tem de importar a todos: mulheres e homens. Importa a toda a sociedade debater este tema para concretizar ações que mudem o panorama da desigualdade de género. Porque equipas de liderança diversificadas tornam melhor as organizações”, refere Cláudia Ricardo, cofundadora do Movimento LIFE.
Outra das fundadoras, Isabel Henriques de Jesus, sublinha que “a ‘questão das mulheres’ mantém toda a atualidade e pertinência nos dias de hoje e deve ser integrada num contexto mais vasto de direitos humanos. Apesar de um caminho e evolução inegáveis, ainda há tentativa de silenciamento ou apagamento, ainda há condicionamentos vários, por vezes bem subtis. Os contornos são mais ou menos nítidos, mas a questão das mulheres não perdeu qualquer atualidade”.
O Movimento Life – Liderança no Feminino na Saúde pretende ser uma iniciativa contínua para conduzir a uma mudança de comportamentos e ações que contribuam para uma maior paridade na liderança no setor da Saúde.