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Combater a Candida: as células que afastam as infeções fúngicas

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De todos os fungos que vivem no corpo humano, o que tem pior fama é provavelmente a levedura Candida. Este primo distante do fermento de padeiro é notório por causar vários tipos de aftas que podem ser um grande incómodo, mas também por levar a uma infeção invasiva que pode, às vezes, ser fatal. Num estudo publicado na revista Nature Immunology, uma equipa de investigadores do Weizmann Institute of Science descobriu um mecanismo de defesa, anteriormente desconhecido, usado pelo sistema imunitário no combate a infeções por Candida.

A Candida está presente, em baixos níveis, no organismo da maioria das pessoas saudáveis, fazendo parte do microbioma – um espetro diversificado de micróbios que residem pacificamente no nosso intestino e na nossa pele.

Em circunstâncias normais, a Candida é controlada pelo sistema imunitário, mas ocasionalmente pode crescer excessivamente, invadindo o revestimento da boca, a vagina, a pele ou outras partes do corpo. Nos casos graves, pode espalhar-se para a corrente sanguínea e daí para os rins.

Estas infeções, potencialmente fatais, podem ocorrer quando o sistema imunitário de uma pessoa está enfraquecido, por exemplo, pela sida ou por medicamentos imunossupressores, como quimioterapia contra o cancro ou esteroides. Os antibióticos, que eliminam muitas das bactérias benéficas dentro do nosso microbioma, também podem desencadear erupções de Candida locais ou invasivas, fornecendo a esta levedura uma vantagem injusta em relação a outros microrganismos. É por isso que, por vezes, as mulheres desenvolvem uma infeção vaginal por fungos depois de tomar antibióticos.

Até agora, as células imunitárias que recebiam a maior parte do crédito por defender o corpo contra a Candida eram os pequenos linfócitos redondos do tipo T, os chamados TH17. Estas células são também culpadas quando essa defesa falha.

No novo estudo, Jan Dobeš, juntamente com colegas do laboratório de Abramson no Departamento de Imunologia e Biologia Regenerativa de Weizmann, descobriu que não é possível gerar uma poderosa unidade de comando das células TH17 capaz de combater a Candida sem o apoio inicial de uma equipa diferente: um subconjunto de células linfoides raras conhecidas como células inatas do tipo 3, ou ILC3, que expressam um gene regulador autoimune (Aire).

Os dois grupos de células pertencem aos dois braços diferentes do sistema imunitário que, com patrulhas a pé e unidades especializadas, unem forças contra um inimigo comum. Os Aire-ILC3s, parte do braço inato mais antigo, entram em ação quase imediatamente ao encontrar uma ameaça, neste caso uma infeção por Candida. Os TH17s pertencem ao braço adaptativo mais recente do sistema imunitário, que leva vários dias ou até semanas para responder, mas que lança um ataque muito mais direcionado e potente do que o inato.

Os cientistas descobriram que assim que a Candida começa a infetar os tecidos, os Aire-ILC3s engolem a levedura inteira, cortam-na e exibem alguns pedaços nas suas superfícies. É assim que esses são apresentados aos TH17s, alguns dos quais que se encontram de plantão nos gânglios linfáticos, prontos para um alerta de infeção.

Este tipo de apresentação instrui as células T especializadas a começarem a dividir-se rapidamente, aumentando em número para várias centenas ou mesmo milhares de combatentes específicos de Candida, capazes de destruir a levedura nos locais da infeção.

“Identificamos uma arma do sistema imunitário, não reconhecida anteriormente, que é indispensável para orquestrar uma resposta eficaz contra a infeção fúngica”, diz Abramson.

Estas descobertas abrem novas direções de pesquisa que, no futuro, podem ajudar a desenvolver novos tratamentos para a Candida grave e possivelmente para outras infeções fúngicas. O mecanismo recém-descoberto pode, por exemplo, ajudar a produzir um grande número de células T que combatem a Candida para serem usadas em terapia celular.

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