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De sintomas ignorados a soluções reais para a saúde da mulher: a missão da EndoSolve

EndoSolve

Durante anos, as conversas sobre a saúde hormonal e pélvica foram ofuscadas pelo estigma, silêncio e incompreensão. Milhões de mulheres suportaram dores sem respostas, sofrendo em silêncio. Mas a mudança está a caminho. O EndoSolve, um projeto pioneiro da União Europeia (UE), está a redefinir a forma como compreendemos e diagnosticamos precocemente as doenças pélvicas, oferecendo às mulheres clareza, validação e esperança. Fundamentado na empatia e impulsionado pela inovação, o percurso do projeto demonstra que a ciência pode ser profundamente humana e transformadora.


A iniciativa destaca casos de sucesso de projetos financiados pelo Conselho Europeu de Inovação (EIC), histórias que oferecem uma oportunidade de ligação a outros membros e inovadores. Ao mostrar os desafios e os sucessos do percurso de cada projeto, estas histórias apresentam momentos e dados importantes que podem aumentar a visibilidade, promover uma compreensão mais profunda e incentivar a troca coletiva de conhecimento entre as comunidades.

Siobhan Kelleher, fundadora e CEO da OnaWave Medical, lidera a EndoSolve, uma inovação financiada pelo EIC que desenvolve uma plataforma digital baseada em biomarcadores para identificar condições pélvicas como a endometriose e a subfertilidade. O seu trabalho situa-se na interseção da engenharia biomédica, da fisiologia reprodutiva e da análise de sinais digitais. Mas, além da ciência, a sua motivação reside em colocar a saúde hormonal no centro da medicina de precisão, uma área que tem sido negligenciada durante muito tempo.

“Ao compreendermos os sinais naturais do corpo, podemos mudar a forma como diagnosticamos, tratamos e capacitamos as pessoas ao longo da sua vida”.

A EndoSolve não foi o primeiro projeto. É o resultado de anos de exploração, fracassos e redescobertas na saúde da mulher. Siobhan e a sua primeira colaboradora, Sinéad Hughes, começaram com um foco diferente: melhorar a monitorização fetal através de sinais bioelétricos para melhorar os resultados tanto para as mães como para os bebés.

Os resultados foram promissores, mas as barreiras institucionais e comerciais impediram o progresso. “Podíamos ter ficado por aqui, mas mudámos o foco para garantir financiamento e tornar o conceito mais prático”, recorda Siobhan. “Sabíamos que o problema era maior. A saúde da mulher precisava de mais do que uma solução, precisava de uma revolução.”

De seguida, desenvolveram uma tecnologia de cirurgia minimamente invasiva concebida para melhorar a obtenção de amostras de tecido intactas. A ideia funcionava na teoria, mas não era tecnicamente viável. Ainda assim, em vez de desistirem, redobraram o seu compromisso com a saúde da mulher, explorando áreas como a depressão pós-parto, a síndrome do ovário poliquístico não diagnosticada, o aborto recorrente e a subfertilidade. Entre todas estas condições, uma destacou-se: a endometriose.

“As mulheres batiam, literalmente, de porta em porta durante anos, em busca de respostas”, diz Siobhan. “Elas não queriam pena, queriam provas, algo que comprovasse que não era tudo da cabeça delas.”

Esta foi a semente da EndoSolve. O que começou por ser a procura de um biomarcador, cedo revelou algo muito maior: uma plataforma capaz de mapear os ritmos hormonais ao longo de toda a vida, tanto nas mulheres como nos homens, em condições como falência ovárica prematura, hemorragia irregular, aborto espontâneo e endometriose. “A saúde pélvica não é uma questão feminina – é uma questão humana”, sublinha Siobhan. “Esta constatação moldou a nossa missão: revolucionar a saúde pélvica e hormonal usando a inteligência biológica do próprio corpo”.

Os objetivos do EndoSolve

A ambição do EndoSolve é ousada: reduzir o tempo de diagnóstico da endometriose de anos para dias, utilizando uma combinação de sensores wearable, uma aplicação para smartphone e aprendizagem automática. Hoje, as pessoas com endometriose esperam frequentemente até uma década por um diagnóstico correto – um atraso causado pela negligência dos sintomas, diagnósticos errados e falta de acesso a especialistas.

Ao oferecer um teste complementar não invasivo para ser feito em casa, o EndoSolve pretende preencher essa lacuna. “Queremos tornar o diagnóstico precoce e preciso uma realidade”, diz Siobhan. “Ninguém deveria ter de viver com dor, à espera de respostas.”

A visão do EndoSolve não se fica por aqui. A longo prazo, a equipa espera criar um ecossistema digital de saúde pélvica, um modelo integrado de cuidados que combine a saúde reprodutiva, hormonal e o controlo da dor crónica. “O nosso objetivo é fazer da saúde hormonal a base da medicina de precisão”, explica Siobhan. “Não se trata apenas de doença – trata-se de bem-estar ao longo da vida.”

Pensa frequentemente nas adolescentes que faltam à escola por causa da dor, nas mulheres que ouvem dizer que os seus sintomas são “normais” e nos casais que enfrentam a dor dos abortos espontâneos recorrentes. “Se pudermos ajudar pelo menos uma pessoa a compreender melhor o seu próprio corpo, já terá valido a pena”, conclui.

No final de contas, o EndoSolve não se resume à tecnologia; trata-se de transformar a experiência vivida em ação. Trata-se de provar que a ciência, quando guiada pela compaixão e pela curiosidade, pode reescrever o que é possível na área da saúde. “As mulheres e os homens esperaram o tempo suficiente para que a ciência acompanhasse a sua realidade. Agora, está finalmente a acontecer.”

 

Crédito imagem: Unsplash

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