
Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que as diferentes características metabólicas associadas à diabetes mellitus tipo 2 podem espoletar a iniciação e a progressão de cancro da mama, sendo os efeitos mais evidentes no subtipo mais agressivo da doença.
Os investigadores procuraram perceber qual a ligação entre as características mais comummente encontradas em pacientes com diabetes tipo 2 e a captação celular de glicose e glutamina, dois nutrientes essenciais para as células de cancro da mama.
Os resultados demonstraram que níveis elevados de importantes componentes da desregulação metabólica que se verifica na diabetes tipo 2, como a insulina e a leptina, interferem na proliferação, migração, formação de novos vasos sanguíneos e sobrevivência das células tumorais e não tumorais da mama, proporcionando um ambiente metabólico favorável para o desenvolvimento de cancro da mama.
De acordo com o trabalho desenvolvido por Cláudia Silva, podemos estar perante um novo alvo para o tratamento de cancro da mama em pessoas com diabetes tipo 2. “A grande dependência das células tumorais em ‘combustíveis’ como a glicose e a glutamina constitui uma vulnerabilidade metabólica específica do tumor, o que pode criar janelas terapêuticas adicionais para erradicar as células tumorais”, revela a investigadora da FMUP.
Os dados deste estudo sugerem que os tumores da mama são sensíveis à inibição farmacológica de dois principais transportadores de nutrientes. Desta forma, “uma terapia direcionada pode ser uma estratégia eficaz para reduzir ou prevenir o início, promoção e progressão de cancro da mama em doentes com diabetes tipo 2″.
Adicionalmente, estes dois transportadores podem ser usados como biomarcadores para o risco de desenvolvimento de cancro da mama em pacientes com diabetes tipo 2.
Segundo os investigadores, o cancro da mama é, atualmente, a neoplasia maligna mais comum entre as mulheres a nível mundial, sendo que entre 20 a 28% dos casos têm também diagnóstico de diabetes tipo 2.
“O cancro da mama em mulheres com diabetes tipo 2 é frequentemente diagnosticado numa fase avançada em comparação com mulheres sem diabetes, o que pode explicar o aumento até 50% da mortalidade nestes casos”, constata a primeira autora do estudo.
Intitulada “The role of nutrient transport by cancer cells in the interaction between type 2 diabetes mellitus and breast cancer”, a investigação de Cláudia Silva foi realizada no âmbito do doutoramento em Metabolismo – Clínica e Experimentação, sob orientação de Fátima Martel, professora da FMUP.