
A doença renal crónica, uma lesão irreversível nos rins, não tem cura e, assim que diagnosticada, fica presente para toda a vida do doente. De acordo com o Registo Nacional de Doença Renal Crónica, Portugal apresenta uma das mais elevadas taxas de prevalência do mundo, com valores a rondar os 20,9% da população portuguesa com esta doença. A incidência e o número de doentes a iniciar o tratamento de hemodiálise também aumentaram.
Para piorar a situação, Edgar Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), alerta que “o Plano Nacional de Saúde atual tem poucas linhas sobre a doença renal crónica” e que esta doença “não pode ser esquecida”, o que significa pouco investimento para o seu diagnóstico, tratamento e investigação.
Se Portugal se mantiver nesta situação, estima-se que a doença renal crónica atinja o 5.º lugar enquanto doença não transmissível com maior impacto na vida das pessoas em 2040 — um valor preocupante para a sociedade portuguesa.
Já Sofia Correia de Barros, presidente da Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL), destaca que a doença renal crónica ainda “é um problema que marca e que vai marcar ainda mais”.
Investigação sobre doença renal crónica
É perante esta situação alarmante que a SPN e a ANADIAL se uniram para trabalhar “para um propósito tão nobre”. Surge, então, o Prémio de Investigação ANADIAL–SPN, no valor de 10 mil euros, que conta já com três edições. O Notícias Saúde esteve presente na cerimónia de entrega de prémios, que decorreu a 27 de fevereiro, na Fundação Oriente. Sofia Correia de Barros acredita que “este é um momento de reconhecimento da investigação científica realizada em Portugal, aplaudida a nível mundial, graças à qualidade dos profissionais portugueses, dos cuidados prestados e do apoio da sociedade”.
A equipa vencedora desta edição foi Pedro Martins, Diogo Leal, Aníbal Ferreira, Kenneth Wilund e João Viana, com o trabalho “A associação do exercício intradialítico com a mortalidade e a hospitalização: um estudo de coorte”, desenvolvido no âmbito de uma parceria entre o Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano da Universidade da Maia e a NephroCare.
O exercício físico durante os tratamentos de hemodiálise
Com esta investigação, determinou-se que “o exercício físico intradialítico está associado à redução da mortalidade e hospitalização”, como explica Pedro Martins, primeiro autor do estudo. Para isso, acredita que é necessário criar um programa de exercício intradialítico implementado a nível nacional. No entanto, esta correlação está “dependente da dose de atividade física”. Nem todos os doentes conseguem atingir a dose ideal de exercício físico que permita protegê-lo da mortalidade, mas, ainda assim, estes dados trouxeram “outcomes muito significativos”. É, por isso, necessário desenvolver-se e adaptar-se “estratégias complementares para combater o complexo problema da inatividade física desta população”, conclui Pedro Martins.
Já João Viana, coordenador da equipa de investigação, partilha que o Prémio de Investigação ANADIAL–SPN é “um importante reconhecimento do trabalho e um incentivo para investigar as melhores estratégias para aumentar a atividade física nesta população, bem como a sua translação para a prática clínica generalizada”. Para isso, é necessário desenhar programas personalizados, que considerem as preferências e necessidades de cada doente, com o objetivo de garantir “mais benefícios para a qualidade de vida dos doentes”.
Por fim, a presidente da ANADIAL ainda partilhou outras iniciativas que realizaram com a Sociedade Portuguesa de Nefrologia. Apesar de existir um registo da doença renal crónica em Portugal, não era acessível aos portugueses, pelo que “ouviram os portugueses” e criaram o Atlas da Doença Renal Crónica em Portugal, com o objetivo de “a doença renal crónica ser conhecida”.