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Estudo inédito mostra que a desigualdade de género tem impacto no cérebro

desigualdade de género

Um estudo que envolveu um grupo de investigadores de 29 países, entre os quais Tiago Reis Marques, médico psiquiatra português e investigador do King´s College em Londres, recolheu e comparou milhares de imagens cerebrais obtidas por ressonância magnética de mulheres provenientes de 29 países, ordenados pela sua igualdade de género, de acordo com classificações internacionalmente reconhecidas. E mostrou, pela primeira vez, que a desigualdade de género tem um impacto nocivo nas estruturas cerebrais.

“É reconhecido que a desigualdade de género tem um impacto social, ao criar um ambiente prejudicial para as mulheres. Sabemos por exemplo que mulheres que nascem em países onde a desigualdade de género é maior têm um risco de doença mental aumentado e uma pior performance académica, quando comparado com homens e com mulheres de países onde existe igualdade de género. Esta foi a premissa que nos motivou a desenvolver este estudo, para perceber se a desigualdade de género provoca alterações cerebrais e perceber os mecanismos neuronais associados”, começa por explicar o investigador Tiago Reis Marques.

“Assim, foram analisados volumes de diferentes estruturas cerebrais, assim como a espessura do córtex (massa cinzenta), pois a menor espessura do córtex está normalmente associada a disfunção cognitiva. Esta análise foi controlada e teve em conta várias variáveis, como a idade das mulheres, produto interno bruto (PIB) de cada país, entre muitos outros fatores, para evitar qualquer viés e explicação alternativa para os resultados encontrados”, continua.

Os resultados permitiram chegar a observações interessantes: “em países com maiores níveis de igualdade de género não existem diferenças na espessura cerebral entre homens e mulheres e, em alguns países, até foi demonstrado uma maior espessura cerebral nas mulheres que nos homens. Por outro lado, nos países com maior desigualdade de género a espessura cerebral das mulheres era inferior à dos homens. E, apesar da redução da espessura cerebral ser global, esta era mais evidente no hemisfério direito e em regiões cerebrais que controlam a resiliência à adversidade, controlo emocional e resposta de stress”.

 Contudo, como principal conclusão o investigador destaca que, “pela primeira vez, mostrámos que existe uma consequência neurobiológica desta variável ambiental que é o fenómeno social da desigualdade de género. As alterações cerebrais observadas podem explicar porque é que as mulheres têm maior risco de doença mental ou um maior risco de declínio cognitivo”.

“Este estudo permite também perceber, enquanto sociedade, que a desigualdade de género não é simplesmente um conceito abstrato ou uma mera construção social. É real e tem um impacto biológico observável. Existe, desta forma, além de um imperativo moral e social, um imperativo biológico na promoção da igualdade de género. Estes dados devem ser tidos em conta em futuras implementações de políticas públicas nacionais, principalmente naqueles onde a desigualdade de género é mais evidente. Espero que cada vez mais se observe um contributo das neurociências no apoio às políticas sociais”, conclui Tiago Reis Marques.

O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Science, uma das mais importantes revistas científicas a nível mundial.

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