Costuma dizer-se que é a falar que as pessoas se entendem, mas para isso é também preciso que todos falem a mesma linguagem. E que conheçam aquilo sobre o que estão a falar. Para que doentes com disfunções da tiroide, médicos e outros profissionais de saúde possam partilhar esse entendimento, a Semana Internacional da Tiroide lança o desafio da comunicação, reforçando o seu papel e, ao mesmo tempo, a importância de se conhecer a tiroide e os problemas associados a esta glândula, que tem um impacto tão grande no organismo.
“É fundamental haver uma boa relação médico – doente, mas é essencial também que as pessoas saibam o que é a tiroide, questionar se já ouviram falar nela, isto porque as doenças que afetam esta glândula são, por um lado, muito prevalentes e, por outro, muitas delas são fáceis de tratar”, refere João Jácome de Castro, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM).
No entanto, acrescenta o especialista, “só conseguimos tratar aquilo que conseguimos diagnosticar, só conseguimos diagnosticar aquilo em que pensamos; e só pensamos naquilo que conhecemos. E isto é verdade tanto para os médicos endocrinologistas, que se dedicam a este tema, como para os médicos de medicina geral e familiar e para os doentes”.
De acordo com o especialista, “o público em geral deve ter o conhecimento de que a tiroide e as doenças que a afetam, que se apresentam normalmente com um determinado tipo de queixas, que quando diagnosticadas cedo são fáceis de tratar na maioria dos casos, que a terapêutica, nomeadamente do hipotiroidismo, se aproxima muito da perfeição. Isto começa tudo por saber o que é a tiroide… que a tiroide existe e é importante. Esse é o primeiro passo”.
O segundo passo, reforça, é estar alerta para as queixas que podem estar associadas às doenças da tiroide, o que é particularmente importante porque “as hormonas tiroideias podem interferir num conjunto enorme de funções do organismo e, por isso, podem-se manifestar por alterações em muitos aparelhos e sistemas: sistema cardiovascular (alterações na frequência cardíaca, na pressão arterial), alterações no peso, no humor, através de um cansaço difícil de explicar, de problemas na pele e cabelo (pele seca, queda de cabelo), queixas na área da ginecologia, da gastroenterologia, alterações da temperatura corporal, do apetite, alterações do peso, entre outras”.
E conhecer estas manifestações é importante porque “pode evitar, por exemplo, não só para o público em geral, mas também para os colegas da medicina geral e familiar, que a pessoa tenha de ir ao cardiologista porque tem o coração a bater devagar, ao gastroenterologista porque está com obstipação, ao dermatologista porque está com a pele seca, ao ginecologista, porque tem irregularidades menstruais e por aí fora. Se calhar, às vezes vale a pena pensar que isto pode ser hipotiroidismo, cujo diagnóstico é fácil de fazer”.
Problemas da tiroide: a importância do rastreio
O especialista defende a existência de um maior rastreio ao hipotiroidismo, considerando “que os médicos devem pensar mais nas doenças da tiroide e associar certas queixas dos doentes à disfunção da tiroide”.
“E apesar de existir ainda alguma controvérsia sobre o assunto, penso que se justifica o doseamento regular da TSH acima dos 50 anos pela elevada prevalência da disfunção tiroideia (em especial o hipotiroidismo subclínico) nesta faixa etária. Também julgo ser vantajoso o doseamento da TSH (uma análise fácil e barata) pré-conceção.”
A comunicação médico-doente é, volta a reforçar, “fundamental para que, após o diagnóstico, o tratamento seja administrado de forma adequada”.
É este, de resto, o lema da campanha anual, que deixa a questão, em jeito de desafio: ‘Falas a Linguagem da Tiroide?’