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Investigadores portugueses estudam as causas da morte súbita na epilepsia

epilepsia

Uma em cada 1000 pessoas com epilepsia morre subitamente todos os anos. De acordo com os investigadores, algumas crises graves (crises convulsivas generalizadas) são o fator de risco mais consistente para a morte súbita inesperada na epilepsia (SUDEP) e, nos últimos anos, a variabilidade da frequência cardíaca tem sido estudada como um potencial indicador para a identificação das pessoas com maior risco de SUDEP. Agora, uma equipa do Centro Hospitalar Universitário de São João e do INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, debruça-se sobre o tema.

Imagine que está sentado na sua sala de estar, com a sua família ou amigos, a ver o seu programa de TV favorito e, de repente, parece perder a consciência. Todos os músculos do seu corpo começam a contrair-se e ele rapidamente enrijece como uma prancha de madeira, caindo ao chão por não se conseguir manter sentado. Em seguida, os seus membros sacodem-se incontrolavelmente. Eventualmente, recupera a consciência e não tem nenhuma memória do que aconteceu. É assim que costuma ser uma crise de epilepsia.

E o que é epilepsia? Trata-se de um problema neurológico comum que afeta o cérebro, conhecido pelas convulsões que provoca.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de epilepsia, a maioria das quais em países de rendimentos baixos e médios.

E se algumas destas pessoas podem ver reduzido o número e a gravidade das convulsões através de medicamentos, outros não parecem melhorar ao longo dos anos. Estas últimas são geralmente diagnosticadas com epilepsia refratária ou resistente a medicamentos. E, como a medicação não é eficaz, são aqueles cujas crises são mais frequentes e graves.

Existem muitos tipos de ataques epiléticos. Tal como descrito pela Epilepsy Foundation, as convulsões podem ser categorizadas de acordo com a extensão do cérebro afetada: aquelas que afetam uma área de um lado do cérebro são chamadas “crises de início focal” em oposição às “crises de início generalizado”, que normalmente afetam ambos os lados do cérebro simultaneamente.

Mas mesmo as crises focais podem generalizar-se e chamam-se crises convulsivas generalizadas às que generalizam, independentemente de terem início focal ou não. E são estas o alvo de estudo por parte dos investigadores portugueses.

Evitar a morte súbita na epilepsia

O primeiro estudo da equipa portuguesa centrou-se nas crises convulsivas generalizadas, caracterizadas pelo enrijecimento de todos os músculos do corpo (tónico) e pelo movimento rápido dos braços e pernas (clónico). A equipa estudou as alterações cardíacas nos doentes com epilepsia refratária, comparando posteriormente os resultados com a população geral.

“Avaliamos 121 pessoas e medimos os seus parâmetros de variabilidade da frequência cardíaca antes e depois de uma convulsão. Os doentes com epilepsia refratária tiveram uma redução significativa nos parâmetros da variabilidade da frequência cardíaca, quando comparados a uma população normalizada saudável”, refere Maria Teresa Faria, Chefe do Departamento de Medicina Nuclear do Centro Hospitalar Universitário de São João.

A variabilidade da frequência cardíaca é a medida de tempo entre cada batimento cardíaco. Ao contrário de um metrónomo, se um coração humano bate 60 vezes por minuto, isso não significa que bate exatamente a cada segundo. Esta variação é considerada boa porque significa que o coração pode responder ao sistema nervoso autónomo, estando pronto para aumentar ou diminuir a frequência cardíaca conforme necessário.

Sendo as crises convulsivas generalizadas um dos tipos mais graves de convulsão, o grupo de especialistas queria confirmar que essas crises afetam os parâmetros de variabilidade da frequência cardíaca mais do que outros tipos de crises e, consequentemente, podem significar um risco aumentado de SUDEP. E confirmaram que assim é.

E se as crises convulsivas generalizadas podem reduzir os parâmetros de variabilidade da frequência cardíaca, e sabendo que uma baixa variabilidade da frequência cardíaca está associada a um maior risco de morte súbita em muitas outras doenças, a sua monitorização pode ser uma forma de identificar quais os doentes com epilepsia que têm maior risco de SUDEP.

“A monitorização da variabilidade da frequência cardíaca ainda não foi incluído pelos neurologistas como procedimento de acompanhamento, mas os doentes com mais alterações podem ter maior risco de SUDEP”, acrescenta Maria Teresa Faria.

Entender se uma pessoa com epilepsia tem um risco aumentado de SUDEP tem vantagens óbvias. Mesmo para os que não respondem à medicação, outras intervenções podem ajudá-los. É, no entanto, necessária mais investigação sobre a SUDEP, para identificar os seus fatores de risco e ajudar a prevenir fatalidades súbitas em pessoas com epilepsia.

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