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Mais de 6% dos europeus sofrem de depressão

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Um estudo realizado em 27 países europeus, liderado por investigadores do King’s College London e do Hospital del Mar Medical Research Institute estima que a prevalência de depressão chegue, na Europa, aos 6,4%.

Publicado na revista The Lancet Public Health, o trabalho mostra que o valor da prevalência da depressão na Europa é superior ao estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que apontava para 4,2%.

A depressão é considerada uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo, aumentando o risco de morte prematura, diminuindo a qualidade de vida e apresentando-se como um grande fardo para os sistemas de saúde. Na verdade, estima-se que pode afetar mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo.

Os investigadores analisaram os dados da segunda vaga do European Health Interview Survey, recolhidos entre 2013 e 2015 e conseguiram utilizar as respostas de 258.888 pessoas de 27 países europeus, entre os quais Portugal. 

A prevalência de depressão foi calculada através de uma escala de oito itens (PHQ-8) que avalia a presença e intensidade dos sintomas depressivos, excluindo pensamentos de morte ou suicídio, e que é usada para diagnosticar este transtorno.

Do total da população avaliada, 6,4% apresentavam provável transtorno depressivo. Nas mulheres, que representaram 52,2% da amostra, a prevalência da patologia foi de 7,7%, muito superior à registada para os homens, que se ficou pelos 4,9%. Uma diferença marcante, que é encontrada em quase todos os países, com exceção da Finlândia e da Croácia.

Um dos factos que mais surpreendeu os especialistas é a grande diferença entre os países, com taxas de prevalência até quatro vezes maiores nas nações economicamente mais desenvolvidas.

“A prevalência geral é alta, com a média de todos os países incluídos superior a 6%. Mas é surpreendente que os países com maior desenvolvimento económico e, por isso, com supostamente melhores recursos de saúde e cuidados, que deveriam reduzir as taxas de prevalência, tenham uma maior incidência do que outros países menos desenvolvidos economicamente”, explica Jorge Arias-de Torre, do departamento de Psicologia Médica do King’s College London e um dos principais autores do artigo.

“Estes dados estabelecem a depressão como um problema muito frequente e, logo, ter essa informação ajuda-nos a estimar possíveis necessidades de cuidados”, refere Jordi Alonso, outro autor do estudo, diretor do Programa de Epidemiologia e Saúde Pública do IMIM-Hospital del Mar e codiretor científico do CIBERESP.

“Os resultados permitirão monitorizar a forma como a prevalência da depressão evolui, e isso é sobretudo importante para avaliar o impacto da pandemia de COVID-19. Temos recolhido dados de muitos países europeus usando o mesmo instrumento, o que nos permitirá monitorizar de perto.”

Portugal apresenta dos valores mais altos de depressão

A análise dos resultados permite verificar que os países com maior prevalência são a Islândia (10,3% da população), o Luxemburgo (9,7%), a Alemanha (9,2%) e Portugal (9,2%).

Entre os que apresentam as taxas mais baixas estão são a República Checa (2,6%), a Eslováquia (2,6%), a Lituânia (3%) e a Croácia (3,2%).

Por sexo, os países com a mais homens a sofrer de depressão são a Alemanha e a Irlanda, e os que apresentam menos são a República Checa e a Eslováquia. No caso das mulheres, os países com as taxas mais altas são a Alemanha e o Luxemburgo, enquanto os mais baixos são a Eslováquia e a República Checa.

Resultados que sugerem que os fatores demográficos, culturais e sociopolíticos, como o acesso a serviços de saúde, a insegurança no trabalho ou o aumento do custo de vida, podem ser determinantes nas diferenças observadas.

Em termos de grupos populacionais, os mais afetados pela depressão são os idosos, os não nascidos na União Europeia, que vivem em zonas densamente povoadas, com doenças crónicas e pouca atividade física, e com níveis de escolaridade e rendimentos mais baixos.

Os resultados do estudo também indicam que os países da Europa Ocidental têm taxas mais altas de depressão em comparação com os países do Leste Europeu.

“Este estudo tem uma das maiores amostras analisadas na Europa até ao momento e reflete as variações de prevalência entre os países que deveriam ser utilizadas para planear os serviços de saúde e monitorizar o fenómeno ao longo do tempo”, explica o Antoni Serrano, vice-diretor de Saúde Mental do Parc Sanitari Sant Joan de Déu, pesquisador do Institut de Recerca de Sant Joan de Déu e autor do estudo.

“Devemos verificar se as estratégias de rastreio populacional podem ser vantajosas na deteção e tratamento desses indivíduos, para reduzir e os custos associados à doença e os encargos para os sistemas de saúde e de assistência social”, acrescenta.

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