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Novas descobertas abrem caminho a uma vacina contra as infeções de ouvido

infeções de ouvido

Todos os anos, cerca de 700 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de infeção de ouvido, muitas delas crianças. Um quarto destes casos é causado pela bactéria Haemophilus influenzae (Hi) que, apesar do nome, é uma bactéria que nada tem a ver com a gripe, uma vez que esta é provocada por um vírus. Um tipo comum de infeção que pode ter os dias contados, assim o desconforto que causa.

“As infeções de ouvido são frequentemente dolorosas e, no pior dos casos, podem levar à perda de audição. E há também outra ameaça muito séria a surgir”, explica Jukka Corander, professor do Instituto de Ciências Médicas Básicas da Universidade de Oslo: a elevada incidência de infeções de ouvido está a resultar no uso massivo de antibióticos.

“As infeções do ouvido são o motivo mais comum para a prescrição de antibióticos a crianças pequenas. O problema é que o uso frequente de antibióticos está a resultar em resistência, ou seja, um ou mais tipos de antibióticos deixam de matar a bactéria”, alerta.

Uma vacina poderá reduzir o uso de antibióticos

Jukka Corander e os seus colegas estão, por isso, muito interessados ​​em encontrar formas de evitar o uso de antibióticos. Um passo fundamental seria desenvolver uma vacina universal para combater a bactéria Haemophilus. Mas, primeiro, Corander e a sua equipa de investigadores tiveram de realizar um estudo sobre um possível grande obstáculo que dificulta o desenvolvimento de uma vacina deste tipo.

“Se descobríssemos muitas variantes diferentes da bactéria, de região para região do mundo, seria mais difícil criar uma vacina universalmente eficaz para utilização contra todos os tipos de infeções de ouvido por ela causadas”, afirma. É que as vacinas são mais fáceis de desenvolver quando uma bactéria não varia de região para região.

Os investigadores precisavam então de descobrir mais sobre o Haemophilus. Para obter uma compreensão mais profunda da variação genética que ocorre nesta espécie, a equipa recolheu milhares de amostras de crianças saudáveis ​​e doentes ao longo de vários anos numa única área da Tailândia, onde a taxa de infeções por Hi é elevada por diversas razões.

A investigadora Anna Kaarina Pöntinen, a primeira autora do artigo, revela que conseguiram mapear até as mais pequenas variações no material genético da espécie utilizando a moderna tecnologia de sequenciação de ADN. Compararam, depois, estas amostras com milhares de amostras de diferentes partes do mundo e as notícias são boas:

“O nosso estudo mostra que, ao contrário de outras bactérias que são as principais causas de infeções respiratórias, não existe uma variação genética significativa no Haemophilus influenzae de região para região. Isto é uma boa notícia, pois se existissem muitas variantes diferentes, seria muito mais difícil desenvolver uma vacina. As nossas descobertas corroboram a nossa hipótese inicial: que podemos desenvolver uma vacina universal para proteger contra todos os tipos de infeções causadas pelo Haemophilus”, afirma.

Em busca de financiamento

Pöntinen e Corander estão satisfeitos com as descobertas e dizem que estão agora à procura de financiamento para poderem começar a trabalhar no desenvolvimento de uma vacina.

“Descobrimos uma quantidade alarmante de resistência aos antibióticos no nosso material genético e conseguimos demonstrar que essa resistência se espalhou pelo mundo. Isto significa que há uma necessidade urgente de uma vacina deste tipo. A bactéria Haemophilus deverá também ser incluída em breve em diversos sistemas de monitorização do desenvolvimento de resistência aos antibióticos. Até agora, o Haemophilus influenzae passou despercebido nos sistemas criados para monitorizar infeções graves, mas a Organização Mundial de Saúde melhorou recentemente a situação no seu sistema GLASS”, revela Corander.

E afirma ainda que não há relatórios publicados após a atualização, pelo que a gravidade da situação global em relação às infeções por Haemophilus influenzae multirresistentes permanece desconhecida até à data.

A bactéria Haemophilus pode ainda causar pneumonia – foi a terceira causa mais comum de morte entre crianças pequenas em países de baixo rendimento, como revelou um amplo estudo publicado em 2024 – sinusite, conjuntivite e meningite.

A razão pela qual os investigadores, neste caso, se estão a concentrar nas infeções de ouvido deve-se à sua elevada taxa de incidência, o que, por sua vez, impõe mais pressão seletiva sobre as bactérias e geralmente leva a uma crescente resistência aos antibióticos. Anna Kaarina Pöntinen alerta que, se não pararmos o uso excessivo de antibióticos, corremos o risco de não termos forma de tratar as pessoas quando adoecem e, no futuro, as pessoas poderão morrer de doenças que hoje são curáveis.

 

Crédito imagem: iStock

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