Mais de 30 milhões de dias de baixas médicas por ano e custos na ordem dos muitos milhões: as enxaquecas pesam nas carreiras, nas economias e nos orçamentos, representando um fardo social para os doentes, erário público e economia em geral, revelam dois novos estudos.
Apresentados no Congresso da Academia Europeia de Neurologia, que decorreu em Lisboa, revelam uma realidade que preocupa os especialistas, levando-os a pedir mais investimento na investigação sobre este tema.
Um estudo francês, que incluiu mais de 7.700 pessoas, verificou que 3,8% indicaram já ter sofrido de enxaquecas severas pelo menos durante oito dias no mês.
“Dois terços eram mulheres, com uma idade média de 41 anos, o que significa que as enxaquecas afetam significativamente mais as pessoas no pico das suas carreiras, quando têm famílias para sustentar”, afirma Guillaume Leib, autor do estudo.
“Crises que representam um problema sério no que diz respeito à manutenção dos seus empregos”, confirma o especialista.
De facto, os doentes relataram 33 dias úteis de faltas ao trabalho (baixas médicas) por ano como resultado das enxaquecas, o que se traduz num custo para a sociedade de cerca de 3,8 mil milhões de euros.
Das baixas médicas aos medicamentos: custos elevados
O impacto estende-se também à vida social dos doentes, com 14% a afirmarem que os elementos da sua família tiveram que ajustar as suas horas de trabalho na sequência dos episódios.
No que diz respeito aos encargos financeiros, 58% relataram um custo médio mensal de mais de 30 euros para medicamentos não comparticipados e 43% gastaram mais de 50 euros por mês noutras terapêuticas não farmacêuticas.
Apesar do elevado nível de gastos, públicos e privados, associados à doença, a qualidade de vida dos doentes com enxaqueca permanece longe de ser satisfatória. Mais de três quartos sofrem de distúrbios do sono e gozaram menos o seu tempo livre do que a população livre de enxaqueca.
Reflexos no trabalho
A estudo junta-se outro, vindo da Suíça, que obteve resultados ainda mais detalhados sobre o absentismo no ambiente de trabalho e as baixas médicas: um grupo de 700 doentes com enxaqueca relatou ter perdido uma média de 32 dias por ano como resultado de seu estado, número semelhante ao partilhado pelo estudo francês.
No entanto, de acordo com François Cadiou, encontraram-se diferenças significativas consoante o tipo de doença. “Com uma média de mais de 56 dias úteis perdidos por ano, os doentes com enxaqueca crónica tiveram a maior taxa de absentismo”, explica.
“Pessoas com enxaqueca episódica foram incapazes de ir trabalhar 33 dias no ano, enquanto aqueles com enxaqueca de baixa frequência tiveram uma média de 15 dias fora como resultado da sua situação.”
Outra descoberta revelou um importante ponto de partida para a prevenção: o número de dias de baixa nem sempre foi constante. De facto, o total aumentou consistentemente e, com ele, a quantidade de medicação tomada, isto quando os doentes indicavam a presença de “ansiedade” ou “depressão” como um sintoma ou desencadeador, pelo menos uma vez no período de observação de 28 dias.
O que leva os especialistas a apelar ao aumento do investimento em investigação e prevenção da enxaqueca, citando as vantagens para a sociedade como um todo.