
Os resultados de um novo estudo sugerem que as partículas microscópicas de plástico encontradas em alimentos e bebidas podem afetar o metabolismo da glicose e causar danos em órgãos como o fígado. As descobertas levantam preocupações sobre potenciais riscos para a saúde humana e apontam para a necessidade de mais investigação.
À medida que o plástico se decompõe, forma micropartículas (<5 mm) e nanopartículas (<100 nm), que podem entrar na cadeia alimentar e acabar em marisco e outros alimentos que consumimos. Estudos estimam que uma pessoa pode ingerir cerca de 40.000 a 50.000 partículas microplásticas por ano através de alimentos e bebidas, com alguns a estimar que a exposição chegue aos 10 milhões de partículas por ano.
“Com a crescente preocupação com a exposição a micro e nanoplásticos, quisemos avaliar o impacto desta exposição na saúde”, explica Amy Parkhurst, da Universidade da Califórnia em Davis. “As nossas observações de que a ingestão oral de nanopartículas de poliestireno contribui para a intolerância à glicose e para os sinais de lesão hepática confirmam e alargam o que foi recentemente relatado sobre os efeitos dos nanoplásticos em modelos animais”.
O perigo dos microplásticos
Para o novo estudo, cujos dados foram apresentados no NUTRITION 2025, o principal encontro anual da Sociedade Americana de Nutrição, os investigadores focaram-se na exposição via consumo oral a nanopartículas mimetizadoras encontradas em alimentos e bebidas.
Forneceram a ratinhos machos de 12 semanas de idade uma dieta padrão para roedores com uma dose oral diária de nanopartículas de poliestireno, um plástico amplamente utilizado, comummente encontrado em embalagens e produtos alimentares. A dose diária escolhida de nanopartículas foi de 60 mg por quilo de peso corporal, com base nos níveis de exposição em humanos e em estudos anteriores com ratinhos que mostraram efeitos na saúde em quantidades semelhantes.
Comparativamente ao grupo de controlo, que não recebeu poliestireno, os ratinhos que consumiram nanoplásticos apresentaram intolerância sistémica à glicose e níveis elevados de alanina aminotransferase, o que indica lesão hepática. Nos ratinhos que consumiram poliestireno, os investigadores observaram também um aumento da permeabilidade intestinal e níveis elevados de endotoxina, que contribuem para a disfunção hepática.
“As nossas descobertas justificam estudos adicionais para ajudar a informar as políticas sobre micro e nanoplásticos”, afirma Parkhurst. “Evidências científicas robustas desempenham um papel fundamental na definição dos esforços de monitorização e na orientação das regulamentações.”
Os investigadores continuam a estudar o impacto dos nanoplásticos noutros tecidos. Gostariam de realizar mais estudos em modelos de roedores para compreender melhor os tecidos e órgãos afetados pelos nanoplásticos e os mecanismos moleculares subjacentes envolvidos.