A andrologia é uma especialidade médica que estuda a saúde dos homens, com foco no diagnóstico e tratamento dos problemas que afetam os órgãos e funções reprodutivas masculinas. Por outras palavras, abrange a infertilidade masculina, hipogonadismo (escassez de hormonas masculinas), cancro testicular e da próstata, contraceção masculina, disfunção erétil e envelhecimento. Mas os especialistas nesta área queixam-se da falta de atenção dada a este tema, em comparação com a sua homóloga, a ginecologia, que trata de questões relacionadas com a saúde reprodutiva feminina.
Há várias razões que o justificam, incluindo a falta de consciência e a assunção tradicional da mulher como a parte “culpada” em caso de infertilidade do casal. As mulheres também costumam falar abertamente sobre questões de saúde, enquanto os homens continuam hesitantes em discutir a sua saúde física ou bem-estar emocional.
A ‘potência’ masculina e a fertilidade são considerados temas tabu devido à persistência de estereótipos de macho-masculidade. Outra razão importante é o sucesso das técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV), com a maioria das pessoas a acreditar que “um espermatozoide é suficiente para produzir um bebé”. Assim, o parceiro masculino é visto apenas como uma fonte de esperma, ignorando o facto de que os seus problemas de fertilidade podem ser uma manifestação de graves problemas de saúde.
A infertilidade entre os homens
A infertilidade entre os homens é uma doença multifatorial e complexa. As anomalias genéticas conhecidas podem explicar 20 a 25% dos casos, mas é provável que haja muitos mais.
A infertilidade também pode estar associada a fatores adversos do estilo de vida e ambientais, alguns atuando durante a vida fetal ou na infância, mas também infeções, exposições ocupacionais e envelhecimento.
Para compreender as causas, é necessária mais investigação no campo da andrologia. A urgência é reforçada por provas preocupantes da crescente incidência de infertilidade e cancro testicular e por uma associação entre a má função reprodutiva e uma saúde geral deficiente.
Há ainda predominância entre os homens de muitas doenças graves, incluindo cancro e COVID-19, levando a uma esperança de vida mais curta.
No entanto, a andrologia clínica tem sido largamente fragmentada entre várias especialidades, incluindo urologia, endocrinologia ou ginecologia e apenas uma minoria de especialistas recebeu educação andrológica abrangente. Foi para abordar estas questões que foi lançada, em outubro de 2021, a ANDRONET COST Action.
“A investigação para identificar as causas da infertilidade nos homens beneficiará da colaboração internacional fornecida pela ANDRONET. É necessário um grande número de amostras e conjuntos de dados para abordar este problema multifatorial, com uma miríade de fatores que possivelmente desempenham o seu papel. Existem excelentes equipas básicas e clínicas em toda a Europa e ANDRONET ajudará a alcançar uma massa crítica para uma melhor ligação e colaboração entre elas”, refere Rafael Oliva, presidente da ANDRONET, uma rede que reúne atualmente 239 peritos, representando 41 países.
E que visa reforçar a interação entre os participantes em toda a Europa, aumentando ainda a sensibilização para a saúde masculina e preenchendo a lacuna de falta de portais públicos dedicados à saúde dos homens na Europa. O terceiro grande objetivo é melhorar a educação em andrologia.
“Temos de melhorar a educação profissional em andrologia. Um andrologista clínico deve adquirir competências específicas para gerir todas as condições andrológicas, incluindo disfunções reprodutivas e erécteis, bem como neoplasias específicas do sexo masculino”, acrescenta a professora Csilla Krausz, a vice-presidente desta iniciativa.