Com a população portuguesa cada vez mais envelhecida, é também mais comum familiares tomarem conta dos seus entes queridos que já não estão capacitados física ou mentalmente para exercer as suas atividades diárias. E se inicialmente este cuidado pode gerar um efeito de satisfação e gratidão, por se estar a retribuir todo o cuidado prestado ao longo da sua vida, as coisas mudam com o passar do tempo. Em causa está a qualidade de vida dos cuidadores informais.
Um estudo publicado na Psychological Science demonstra que a qualidade de vida e o bem-estar dos cuidadores informais reduziram e que os sentimentos de depressão, ansiedade e solidão aumentaram, principalmente nos primeiros dois anos de cuidado. E revela ainda que, ao contrário do esperado, as pessoas não regressam aos seus níveis médios de bem-estar emocional após se adaptarem a estas circunstâncias difíceis.
Além disso, foi possível traçar um perfil comum de cuidador informal: mulheres mais velhas tinham mais probabilidade de exercer este papel.
Michael D. Krämer e Wiebke Bleidorn, especialistas em Psicologia e coautores do estudo, consideram que estes resultados demonstraram também que as mulheres são as principais afetadas. Os especialistas confirmam “perdas de bem-estar relativamente consistentes em mulheres depois de se tornarem cuidadoras informais”.
O psicólogo clínico Michael D. Krämer reforça que “é um fenómeno bem documentado que as mulheres tendem a assumir o papel de cuidadora informal com mais frequência”, investindo, consequentemente, mais tempo em cuidados.
Por outro lado, o estudo comprovou também “perdas de bem-estar temporalmente específicas para homens, não se estendendo além do primeiro ano no papel de cuidador”. Tal significa que os homens tiveram uma maior capacidade de adaptação, enquanto, para as mulheres, os seus níveis de satisfação e bem-estar continuaram a diminuir.
“Enquanto cuidador informal, este é definitivamente um período em que algum apoio seria mais apreciado. Isso poderia vir de outros membros da família ou de políticas, por exemplo, de assistentes sociais comunitários”, destaca Michael D. Krämer.
O impacto do tempo no bem-estar dos cuidadores informais
Além destes dados, os investigadores demonstraram que o bem-estar dos cuidadores está intimamente relacionado com as horas de trabalho. Isto é, normalmente, os entrevistados exerciam cerca de 1 a 2 horas de cuidados por dia; no entanto, quando essas horas aumentavam, o seu bem-estar diminuía. Por outro lado, este fator não está relacionado com o facto de terem um trabalho a full-time.
A partir destas conclusões, Michael D. Krämer e Wiebke Bleidorn enfatizam a importância de intervenções para dar suporte a cuidadores informais durante os primeiros dois anos de cuidados. Considerando os efeitos negativos no seu bem-estar, existem estratégias e políticas que podem aliviar este impacto prejudicial, tal como referem os especialistas.
Este estudo reuniu mais de 28 mil cuidadores informais, durante 20 anos, da Holanda, Alemanha e Austrália. Para determinar os níveis de satisfação com a vida, depressão, ansiedade, solidão e outros estados psicológicos, os entrevistados relataram as horas de cuidado informal por semana e ainda o que sentiram aquando do exercício destas funções.