Aumentou drasticamente o número de pessoas que morreram ou ficaram incapacitadas devido a doenças neurológicas nos últimos 25 anos. Um facto que deve servir de alerta para que os políticos otimizem a prestação de cuidados de saúde, afirmam os principais especialistas em neurologia, que se vão juntar, em Lisboa, no 4.º Congresso da Academia Europeia de Neurologia.
“Os distúrbios cerebrais, como o AVC, a demência, as cefaleias, a esclerose múltipla e a doença de Parkinson, são a principal causa de incapacidade na Europa e a segunda causa de morte mais comum”, afirma Günther Deuschl, presidente da Academia Europeia de Neurologia (EAN).
“As implicações humanas e económicas – de anos de vida perdidos a custos diretos e indiretos – não devem ser algo em que apenas os investigadores se concentram, devendo os políticos, em especial, fazê-lo também.”
De acordo com um grupo internacional de investigadores, autores do estudo Global Burden of Disease, em 2015 registou-se um total de 250,7 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade, ou seja, anos de vida saudável perdidos devido a doença ou morte prematura, causados por condições neurológicas em todo o mundo.
No mesmo ano, os distúrbios cerebrais foram responsáveis por 9,4 milhões de mortes, quase 17% de todas as mortes durante 2015.
AVC na liderança
Ainda de acordo com o mesmo estudo, entre 1990 e 2015 houve um aumento global de 36,7% nas mortes atribuíveis aos distúrbios cerebrais, embora o número de fatalidades atribuíveis a AVC ou a doenças neurológicas transmissíveis tenha diminuído significativamente durante o mesmo período.
“Não há um final à vista para esta tendência, que é causada principalmente pelo crescimento populacional e pelas alterações demográficas. No entanto, os principais impulsionadores destes desenvolvimentos são o AVC e a demência”, explica Deuschl.
A nível global, o AVC é o distúrbio cerebral responsável pelo maior número de mortes (67,3%). A doença de Alzheimer e outras formas de demência são a quarta maior causa de incapacidade e a segunda causa de morte mais comum.
“Os distúrbios cerebrais passaram de um grupo de doenças significativamente subestimado e, muitas vezes, subtratado, para um enorme desafio para a política social e de saúde atualmente.”
Mais apoios precisam-se para a luta contra as doenças neurológicas
Unidos, os especialistas lançam o alerta. Franz Fazekas, presidente eleito da EAN, considera que “os países da UE devem questionar-se se querem investir o dinheiro necessário para prevenir, controlar e curar os distúrbios cerebrais no futuro. Ou se vão ter de gastar o dinheiro de qualquer maneira, pois o número de doentes continua a aumentar.”
A Academia Europeia de Neurologia pede, por isso, mais medidas preventivas e estruturas de cuidados preventivos para os principais distúrbios cerebrais.
Garantir a existência de fundos suficientes para apoiar e intensificar projetos de investigação transfronteiriços na área das doenças neurológicas é um aspeto essencial para fazer frente aos encargos com distúrbios cerebrais.
“Esperamos que estes factos convençam os políticos e os decisores a investir no futuro da nossa sociedade e a gerar programas de investigação para reduzir os encargos com distúrbios neurológicos”, refere Fazekas.
Neurogenética, um dos temas principais do congresso
Este ano, o 4.º Congresso da EAN realiza-se em Lisboa e tem como tema central a neurogenética, à medida que surgem novos conhecimentos sobre as influências genéticas em numerosos distúrbios cerebrais, aos quais se junta a terapêutica genética, que parecer estar a entrar na prática clínica.
“A Neurogenética não é uma solução milagrosa com a chave para resolver todos os problemas. Mas ajuda a reclassificar doenças e grupos de doenças, além de prometer abrir novas abordagens de tratamento”, afirma Deuschl.
A Neurogenética é uma ferramenta importante para identificar os muitos distúrbios raros que causam sintomas neurológicos e que, muitas vezes, não são reconhecidos durante muito tempo, deixando os doentes com incertezas sobre o seu estado de saúde.
Já existem opções terapêuticas para muitos destes distúrbios, como a substituição de enzimas específicas, os medicamentos direcionados ou uma dieta específica.
Nos distúrbios neurológicos frequentes, como a epilepsia, a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson, existem formas hereditárias que agora podem ser detetadas, o que significa que as pessoas afetadas podem ser informadas sobre os riscos que podem afetar as suas vidas e as dos seus filhos.
Por último, a terapêutica de substituição genética está no horizonte e promete curar até distúrbios progressivos que, de outra forma, seriam implacáveis, como a atrofia muscular espinhal e a ataxia de Friedreich.
“Gostaríamos de garantir que o maior número possível de pessoas na Europa pode beneficiar das descobertas mais recentes. E o nosso congresso é um valioso centro de informações onde os melhores podem aprender com os melhores”, conclui Fazekas em comunicado.