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Sobrevivência do cancro infantil: as sequelas, o acompanhamento e a investigação

sequelas do cancro infantil

Para todos os que superam o diagnóstico de cancro infantil, a jornada não termina com o fim do tratamento. Os efeitos secundários representam um novo capítulo, muitas vezes desafiador.

“São diversos, apresentam gravidade distinta e podem surgir durante a fase dos tratamentos, persistindo para o resto da vida, ou aparecer ao fim de alguns anos”, explica Mariana Mena, Diretora-Geral da Fundação Rui Osório de Castro (FROC). Um impacto que justifica que este seja o tema em destaque na 11.ª edição do Seminário de Oncologia Pediátrica, uma iniciativa da FROC que este ano se realiza no Dia Internacional da Criança com Cancro (15 de fevereiro), no auditório do IPO Porto.

“Embora a taxa de sobrevivência de cancro infantil nos países desenvolvidos seja elevada, 80%, a probabilidade de um sobrevivente manifestar efeitos secundários decorrentes do tratamento é também elevada”, confirma Mariana Mena. Sequelas que podem afetar a visão, a audição, o crescimento, a capacidade cardiovascular e cognitiva, ou a fertilidade, às quais se juntam as de natureza psicossocial, “com impacto, por vezes, invisível, mas que afeta grande parte da vida destas pessoas”.

Novo rumo do SNS, oportunidade para o cancro infantil

Além deste tema, que vai ser abordado por especialistas de várias áreas, também se irá debater o ‘Novo Rumo no SNS’, título de um dos painéis que contará com a presença do Diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, e o seu ptencial impacto no cancro infantil.

Isto porque, explica a Diretora-Geral da FROC, “não existe no Serviço Nacional de Saúde (SNS) uma resposta estruturada e articulada com os Centros de Referência que responda às especificidades desta população após a alta. O atual contexto de restruturação do SNS e de implementação do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas constitui uma oportunidade ímpar para evoluirmos na qualidade de vida dos sobreviventes. Uma oportunidade que não deverá ser desperdiçada”.

A importância dos ensaios clínicos, nomeadamente a colaboração internacional nesta área que, segundo o Dr. Ximo Duarte, especialista em oncologia pediátrica, tem permitido “a maior parte dos avanços ao nível dos tratamentos do cancro infantil, assim como o aumento da taxa de sobrevivência e diminuição dos efeitos secundários”, vai ser alvo de debate, com foco também no aumento da literacia das famílias das crianças com cancro.

“Quando os pais se deparam com o doloroso diagnóstico do cancro do seu filho e, na sequência da necessidade do tratamento, e quando existe a possibilidade de participarem num ensaio clínico, surgem muitas questões e dúvidas e as famílias têm de ser ajudadas a entender”, afirma o médico. Para isso, será apresentado ‘Guia para Pais sobre Ensaios Clínicos’, uma ferramenta informativa desenvolvida pela FROC que visa facilitar uma decisão consciente e informada.

Ainda no que diz respeito aos ensaios clínicos, “a maior parte dos que são feitos em idade pediátrica ocorrem por iniciativa do investigador, que tem menor apoio de recursos financeiros e humanos quando comparado com os ensaios de iniciativa da indústria”.

Em Portugal, Ximo Duarte explica que “esta situação é especialmente complexa, pois as unidades de investigação nos hospitais têm escassos recursos humanos e a carga burocrática associada à submissão e condução dos ensaios académicos, que é muito exigente, recai toda sobre os investigadores. Não havendo uma estrutura de suporte nestas unidades, os médicos oncologistas têm muita dificuldade em compatibilizar a participação em ensaios com a sua carga clínica”.

O que pode justificar o facto de serem poucos os ensaios com participação nacional. De acordo com os dados do projeto OCEAN, realizado pela SIOPE (Sociedade Europeia de Oncologia Pediátrica) e que visa mapear o desenvolvimento da cancro infantil ao nível dos cuidados e da investigação, entre 2010 e 2022, Portugal participou em 4% dos ensaios desenvolvidos na Europa, enquanto países como Espanha, Reino Unido e Itália, por exemplo, apresentam uma taxa entre 40 a 45%.

Crédito imagem: iStock

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