
As moléculas exaladas na respiração podem ajudar a detetar o cancro no sangue, de acordo com uma nova investigação da Queen Mary University of London. As descobertas podem permitir o desenvolvimento de uma espécie de alcoolímetro para o cancro do sangue, proporcionando uma forma rápida e de baixo custo de detetar doenças. Esta ferramenta pode ser particularmente útil para áreas com acesso limitado a equipamento ou conhecimentos especializados.
Diagnosticar cancros no sangue pode ser uma tarefa desafiante, uma vez que os sintomas iniciais são geralmente inespecíficos, como fadiga e perda de peso. O diagnóstico baseia-se em exames especializados, como exames de imagem ou biópsias, que podem ser dispendiosos ou de difícil acesso em algumas regiões.
Opções de testes mais rápidas, de baixo custo e não invasivas podem ajudar-nos a diagnosticar cancros no sangue mais precocemente, quando o tratamento tem maior probabilidade de sucesso. Podem também ajudar a monitorizar a doença e a verificar o desempenho dos tratamentos.
“Estudos anteriores demonstraram o valor da utilização de testes respiratórios para detetar o cancro do pulmão. Mas nunca ninguém tinha investigado se as células cancerígenas do sangue libertam moléculas que passam para a respiração, apesar de o propósito da respiração ser a troca de substâncias entre o sangue e o ar expirado”, comenta John Riches, um dos autores do trabalho.
Num estudo publicado na HemaSphere, Riches e a sua equipa demonstram, pela primeira vez, que um teste respiratório pode ajudar-nos a detetar cancros no sangue. Utilizando uma tecnologia de alcoolímetro desenvolvida pela Owlstone Medical, a equipa recolheu ar expirado de 46 pessoas com cancro do sangue e 28 pessoas saudáveis. De seguida, analisaram a impressão digital química da respiração, procurando dezenas de milhares de fragmentos moleculares com recurso a uma técnica chamada espectrometria de massas.
Os investigadores demonstraram que as pessoas com linfoma de alto grau, um tipo agressivo de cancro do sangue que afeta o sistema linfático, apresentam níveis significativamente mais elevados de determinadas moléculas na respiração, em comparação com as pessoas saudáveis. Isto inclui moléculas produzidas quando as gorduras nas nossas células são danificadas por um processo chamado stress oxidativo, que é conhecido por desempenhar um papel no desenvolvimento do cancro.
Simplicidade e acessibilidade
A simplicidade, o preço acessível e a portabilidade dos alcoolímetros, em comparação com os métodos de diagnóstico convencionais, também significa que podem ser utilizados em qualquer parte do mundo. Isto pode beneficiar particularmente ambientes com poucos recursos, sem acesso a scanners ou a equipas e instalações especializadas em histologia, como em zonas rurais ou países em desenvolvimento.
“No futuro, em vez de enviar os doentes para exames dispendiosos e esperar pelos resultados, os médicos poderão realizar um teste rápido de alcoolímetro na sua clínica e, potencialmente, obter os resultados em poucos segundos”, comenta Riches.
São necessárias mais pesquisas para permitir o desenvolvimento de um teste respiratório eficaz para o cancro do sangue. A equipa trabalhará para compreender melhor a biologia que rege a produção das moléculas transportadas pelo ar detetadas no hálito dos doentes e que tipos específicos de linfoma são mais fiáveis de detetar utilizando este método. Isto ajudará no desenvolvimento de testes mais específicos e sensíveis, que os investigadores esperam poder reduzir os atuais 10 minutos necessários para a recolha de ar expirado para apenas alguns segundos.