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Jogos Olímpicos podem ser centro de propagação de doenças como a dengue

dengue

Numa altura em que foi detetada a presença do mosquito transmissor de dengue, o zika e a chikungunya em Cascais e Pombal, especialistas em saúde global alertam que estas doenças transmitidas por mosquitos podem espalhar-se através dos Jogos Olímpicos para países onde normalmente não são prevalentes, isto à medida que as autoridades intensificam a monitorização de doenças na capital francesa.

Esperam-se mais de 11 milhões de visitantes na capital francesa para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, com cerca de 1,5 milhões a viajar do estrangeiro, de acordo com as últimas projeções do gabinete de turismo parisiense.

Uma situação que surge num contexto de aumento do risco da doença tropical dengue em França, face a uma tempestade perfeita de clima quente e húmido, combinada com um número crescente de mosquitos tigres levados para norte pelo aquecimento global.

“A importação de doenças é particularmente problemática para um país onde esta doença está ausente, mas o vetor [agente transmissor da doença]… está presente”, alerta Osman Dar, médico consultor de saúde global da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido.

Dengue pode espalhar-se rapidamente

A maioria das pessoas infetadas com dengue não apresenta sintomas e existe a possibilidade real de que algumas possam estar a trazer consigo a doença – e outras a regressar com ela aos seus países de origem.

Najmul Haider, professor da Universidade de Keele, no Reino Unido, disse ao SciDev.Net que “os agrupamentos de massas [como os Jogos Olímpicos] trazem sempre algum tipo de risco. Se [os viajantes] estiverem infetados com dengue, é muito provável que possam ser uma fonte de infeção em França”.

Osman Dar afirma que as doenças detetadas no evento podem espalhar-se rapidamente num país onde ainda não estão estabelecidas, sobrecarregando rapidamente um sistema de saúde mal equipado para um surto. É, por isso, essencial uma vigilância de vetores transmissores de doenças, como os mosquitos, juntamente com a monitorização de pessoas que apresentam sintomas, para garantir uma resposta rápida a qualquer potencial surto.

“É importante que os visitantes e os prestadores de cuidados de saúde recebam as comunicações de saúde adequadas, tanto em casa como no país que visitam, para que todos saibam o que procurar”, refere.

No entanto, John Tembo, coordenador científico da Herpez, uma organização de investigação médica na Zâmbia, diz que pode ser difícil garantir testes de rotina para doenças como a dengue em zonas onde esta não ocorre normalmente, sobretudo em países com recursos limitados, o que pode fazer com que os surtos não sejam detetados.

“É especialmente preocupante se a doença apresentar sintomas ambíguos que podem ser confundidos com outros sintomas mais comuns. Pode não ser identificado até que já se torne um problema de saúde grave.”

Uma tempestade perfeita

O alcance geográfico das doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue, o zika e a chikungunya, expandiu-se rapidamente devido à globalização e às alterações climáticas.

Cerca de metade da população mundial corre o risco de contrair dengue, com uma estimativa de 100 a 400 milhões de infeções a ocorrerem a cada ano, refere a Organização Mundial de Saúde.

Até ao momento e em 2024, segundo os dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, registaram-se 5.000 mortes por dengue em 80 países, sobretudo na América Latina e no Sudeste Asiático.

Medidas de prevenção e proteção

A chikungunya apresenta sintomas semelhantes aos do zika e da dengue, causando febre intensa e dores nas articulações, enquanto o vírus zika também pode causar defeitos congénitos graves se uma mulher grávida estiver infetada.

Todas as três doenças são transmitidas por mosquitos tigre, que estão a expandir-se para áreas hoje não habituadas a doenças transmitidas por mosquitos. Introduzidos pela primeira vez no Sul da Europa na década de 1970, estão agora estabelecidos em toda a Europa Ocidental, Meridional e Oriental.

Apesar desta rápida expansão, muitos casos de dengue na Europa são importados. Em França, entre janeiro e maio de 2024, as autoridades de saúde registaram 2.166 casos importados, oriundos de países como Guadalupe, Martinica e Guiana Francesa, todos eles afetados por epidemias de dengue.

A agência nacional de saúde francesa reportou apenas um único caso não importado de dengue em 2024. No entanto, a expansão da população de mosquitos, o aumento das temperaturas no verão e o aumento da importação de dengue de regiões endémicas levantaram receios de que uma tempestade perfeita pudesse ocorrer.

Com chuvas fortes no início dos jogos e temperaturas amenas, as condições em Paris são ideais para os mosquitos tigre, encontrados sobretudo em áreas urbanas e perto de fontes de água.

As autoridades francesas afirmam ter implementado medidas para prevenir e monitorizar surtos de doenças, tendo sido montadas 526 armadilhas para a postura de ovos de mosquitos para verificar a presença de mosquitos tigre.

Os esforços para reduzir os locais de reprodução de mosquitos, que podem incluir a captura dos insetos e a remoção de fontes de água onde depositam os seus ovos, estão concentrados em “áreas propícias à proliferação de mosquitos perto de locais de grandes concentrações”, de acordo com a agência.

Para ajudar a monitorizar os casos de doenças, o Instituto Pasteur, uma fundação de investigação biomédica, está a trabalhar em estreita colaboração com as equipas de saúde pública em Paris para aumentar a capacidade de deteção de doenças infecciosas durante os jogos.

 

Crédito imagem: Unsplash

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