
Uma equipa de investigação de Espanha demonstrou que o teatro pode melhorar o bem-estar emocional das pessoas com doença de Parkinson.
O estudo, realizado por um grupo da Universitat Oberta de Catalunya (UOC), em colaboração com o Hospital Sant Pau, e publicado na revista Arts & Health, forneceu a primeira avaliação dos efeitos combinados da participação ativa e passiva em atividades teatrais na saúde emocional e cognitiva e na qualidade de vida destes doentes.
O projeto envolveu 34 pessoas com doença de Parkinson, com idades entre os 50 e os 75 anos, divididas em dois grupos: um frequentou um programa de teatro de três meses no Teatre Lliure, em Barcelona, que incluiu apresentações, workshops práticos e uma visita guiada; o outro grupo realizou exercícios de estimulação cognitiva em casa. Ambos foram avaliados antes e depois do programa, através de testes neuropsicológicos validados e questionários sobre o humor, a qualidade de vida e a perceção da mudança.
A nível emocional, os resultados são conclusivos: os doentes que participaram no projeto de teatro apresentaram uma melhoria do bem-estar emocional, que não foi observada no grupo que realizou exercícios de estimulação cognitiva em casa. Além disso, os participantes tanto do grupo de teatro como do grupo de estimulação cognitiva apresentaram níveis mais baixos de depressão e ansiedade, o que sugere que ambas as atividades contribuem para a melhoria do humor, embora de formas diferentes.
O impacto mais imediato foi evidente nos participantes dos workshops de teatro em grupo: de acordo com as escalas aplicadas antes e depois de cada sessão, a carga emocional diminuiu significativamente após cada workshop, destacando o valor do teatro como ferramenta para canalizar emoções.
Os resultados da investigação mostram que “as atividades de grupo podem ajudar a reduzir os sentimentos de isolamento, promover ligações emocionais entre os participantes e aumentar a empatia, reconhecendo que outros partilham experiências semelhantes ao enfrentar os desafios da doença”. Da mesma forma, “a maioria relatou que trabalhar em grupo aumentou o seu sentimento de apoio social enquanto doentes”.
Workshops para trabalhar a expressão emocional e a consciência corporal
O programa de teatro consistiu em cinco apresentações acompanhadas de sessões preparatórias e cinco workshops conduzidos por profissionais das artes performativas. As oficinas abordaram questões físicas e emocionais através de dinâmicas de grupo, exploração do corpo e do espaço, improvisação e storytelling coletivo. Segundo os investigadores, o impacto emocional é explicado por dois fatores principais: a expressão emocional explícita que o teatro exige e o ambiente de grupo, que reforça a empatia e o sentimento de pertença.
Os workshops, todos dinamizados por profissionais do teatro, incluíram atividades específicas, como aquecimento físico, exploração do espaço e presença em palco, exercícios baseados nas emoções, contos em grupo e improvisação. Esta combinação de técnicas teve como objetivo melhorar a expressão emocional e a consciência corporal, fatores que o estudo associa aos benefícios observados no bem-estar dos doentes.
Embora não tenham sido observadas melhorias significativas nos testes cognitivos objetivos, registou-se uma melhoria na perceção subjetiva da capacidade cognitiva diária, o que pode levar a uma maior confiança na execução das tarefas diárias. O feedback dos participantes foi também extremamente positivo.
Este estudo clínico fornece novas evidências sobre os benefícios das artes para a saúde das pessoas com Parkinson. Apenas dois trabalhos anteriores tinham examinado o uso do teatro em pessoas com esta doença e apresentaram resultados promissores, mas não replicados.
Este novo estudo aplica uma metodologia rigorosa e define linhas claras para a investigação futura: aumentar a duração do programa, incluindo medidas mais ecológicas de cognição, que avaliem o desempenho das pessoas no seu dia-a-dia, e estudar em profundidade os mecanismos subjacentes a estes benefícios. Em suma, propõe melhorar os métodos de avaliação para captar mudanças subtis na cognição.
De acordo com o artigo, as atividades artísticas, e as teatrais em particular, são uma ferramenta promissora, juntamente com a medicação, que tem efeitos limitados em sintomas como apatia, anedonia e isolamento emocional. A investigação segue as diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda as artes como uma “receita social” para melhorar a saúde e o bem-estar desde 2019.