
“Portugal tem o dobro da população que precisa de tratamento de diálise, quando comparado com Espanha, e é preciso ter noção que isso está relacionado com a deficiente cobertura médica do país.” Quem o afirma é Aníbal Ferreira, nefrologista no Hospital Curry Cabral e docente na NOVA Medical School, em entrevista ao Notícias Saúde, no âmbito do evento comemorativo dos 40 anos da ANADIAL, onde se falou sobre doença renal crónica. Leia a entrevista.
O encontro ficou marcado pela apresentação dos resultados do estudo “A Doença Renal e a Diálise em Portugal: a visão dos portugueses”, sobre o qual Aníbal Ferreira partilhou a sua opinião: “Estes resultados não nos surpreendem, mas mostram claramente que há uma desinformação e iliteracia médica muito grande da nossa população.”
Além disso, mesmo que já tenham ouvido falar sobre a doença renal crónica ou a hemodiálise, pouco sabem sobre as suas principais causas, não tendo, por isso, “capacidade para intervir e serem exigentes com os seus médicos e poderes públicos para terem melhor tratamento”. As principais causas são hipertensão arterial e diabetes, levando a que cerca de 40% dos doentes venham a desenvolver insuficiência renal.
Aníbal Ferreira salienta que “é importante que as pessoas saibam que, se têm hipertensão, diabetes, recorrem muito a analgésicos e fazem automedicação, devem olhar com mais atenção para os seus riscos e a possibilidade de insuficiência renal”.
O especialista partilha também que a creatinina e a pesquisa de proteínas na urina devem ser solicitadas aquando de análises no sangue. “Se o fizerem, conseguimos diagnosticar muito mais cedo estas doenças e referenciá-las aos nefrologistas. Isso é a segunda fase.”
Para piorar a situação, cerca de 2 milhões de pessoas em Portugal não têm médico de família. “Vamos ter, seguramente, uma percentagem muito elevada de doentes com insuficiência renal crónica, estimando-se que cerca de 150 mil doentes não têm o diagnóstico de insuficiência renal crónica.” Em suma, “os grandes desafios são aumentar o conhecimento médico, a literacia e o acesso à medicina destes estádios iniciais”, refere Aníbal Ferreira.