
A diarreia dos ácidos biliares é, confirma Madalena Pestana, especialista em gastroenterologia no Hospital Dr. Nélio Menonça, no Funchal, um problema com grande impacto na vida dos doentes. Trata-se de uma condição que resulta da passagem excessiva de ácidos biliares do intestino delgado para o cólon e que, segundo os dados disponíveis, afeta “até 1% na população geral e até 50% em doentes com diarreia crónica associada a patologias do intestino delgado, diarreia funcional ou síndrome do intestino irritável”. Frequentemente subdiagnosticado, “leva a um consumo excessivo e muitas vezes ineficaz de recursos de saúde, incluindo consultas médicas, exames complementares e tratamentos empíricos para a diarreia crónica, que raramente trazem benefício clínico real”.
Uma ausência de resposta que não só gera frustração nos doentes, como representa um desperdício de recursos, mas que pode mudar com a chegada a Portugal de um exame de medicina nuclear da GE HealthCare, disponível tanto para hospitais privados como públicos, que promete mudar este paradigma.
O primeiro diagnóstico com recurso a esta inovação, um exame de medicina nuclear simples, preciso e não invasivo que fornece um diagnóstico objetivo, permitindo aos médicos tratar com confiança, já foi feito, no Hospital do Funchal, na Madeira.
Até agora, o diagnóstico em Portugal era feito frequentemente por exclusão, através de tratamento empírico, ou seja, através da administração de medicamentos sem um diagnóstico preciso. “A necessidade de realização de uma terapêutica empírica em doentes com diarreia crónica representa mais um tratamento de tantos outros já realizados, a maioria sem resultado. Além disso, o mau sabor deste medicamento faz com que a adesão terapêutica seja mais baixa”, refere Madalena Pestana.
O novo exame revoluciona esta abordagem, destacando-se ainda por “ter maior sensibilidade e especificidade. É um exame bem tolerado pelos doentes, minimamente invasivo e permite uma avaliação quantitativa direta da retenção de ácidos biliares”, refere a especialista.
Um teste que permite não apenas um diagnóstico mais célere, objetivo e seguro, como também “a possibilidade de classificação em diarreia dos ácidos biliares ligeira, moderada ou grave, que poderá guiar o clínico na dosagem e resposta à terapêutica”.
A disponibilização deste teste representa também, além de um avanço tecnológico, um investimento na eficiência dos cuidados de saúde e na qualidade de vida dos doentes, ao traduzir-se em benefícios económicos claros: redução de consultas desnecessárias, diminuição de exames complementares ineficazes e implementação de tratamentos direcionados desde o início.
Para os doentes, significa a identificação da doença “de forma simples, precisa e não invasiva, permitindo um diagnóstico mais rápido e o início de um tratamento eficaz, melhorando os sintomas e a qualidade de vida”, reforça Patrícia Gouveia, especialista em Medicina Nuclear Nuclear no Hospital Dr. Nélio Mendonça, Funchal.
Impacto transformador no diagnóstico e tratamento
Para Patrícia Gouveia, a aprovação desta inovação em Portugal “representa um avanço significativo no diagnóstico da diarreia dos ácidos biliares, permitindo que os profissionais de saúde realizem diagnósticos mais precisos e iniciem tratamentos adequados de forma mais eficiente, beneficiando diretamente os doentes. Um diagnóstico positivo pode, ainda, ter um impacto psicológico positivo no doente, levando a melhor adesão à terapêutica”.
Considera que é agora necessário apostar na “formação e sensibilização dos profissionais de saúde sobre a diarreia dos ácidos biliares e o uso desta inovação, bem como a implementação de protocolos clínicos que integrem este teste no diagnóstico de diarreia crónica inexplicada”.
Mas para que isso aconteça é preciso “garantir a disponibilidade do teste em centros hospitalares (como acontece agora no Funchal) e sensibilizar os gestores de saúde para a importância do diagnóstico e tratamento da diarreia dos ácidos biliares”, que é, reforça a especialista, “uma causa tratável de diarreia crónica. Um diagnóstico preciso, utilizando este exame, permite um tratamento eficaz e uma melhoria significativa na qualidade de vida dos doentes”.