Na luta contra o cancro, as batalhas travam-se em várias frentes e uma delas é no laboratório. Por todo o mundo, grupos de cientistas procuram novas armas no combate à doença, entre os quais os investigadores do Instituto do Cancro Dana-Farber, que acabam de apresentar um novo exame de sangue capaz de rastrear vários tipos de cancro com um elevado grau de precisão.
Tornado público no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, o exame de sangue, desenvolvido pela GRAIL, Inc., usa a tecnologia de sequenciamento de última geração para investigar o ADN em busca de minúsculas marcas químicas que influenciam se os genes são ativos ou inativos.
Quando aplicado a quase 3.600 amostras de sangue, algumas de doentes com cancro, outras de pessoas sem diagnóstico no momento da colheita, o teste foi capaz de captar, com sucesso, um sinal de cancro nas amostras de quem sofria da doença, tendo identificado corretamente o tecido onde o cancro começou (o tecido de origem).
A especificidade do teste, ou seja, a sua capacidade de proporcionar um resultado positivo quando o cancro se encontra realmente presente, foi alta, assim como a sua capacidade de identificar o órgão ou tecido de origem.
Exame de sangue com enfoque no ADN
O novo teste procura ADN que as células cancerígenas lançam na corrente sanguínea quando morrem. Em contraste com as “biópsias líquidas”, que detetam mutações genéticas ou outras alterações relacionadas com o cancro, esta tecnologia concentra-se nas modificações do ADN, conhecidas como grupos metilo.
Estes são unidades químicas que se podem associar ao DNA, num processo chamado metilação, para controlar quais os genes que estão “ativados” e quais os que estão “desativados”.
Os padrões anormais de metilação acabam por ser, em muitos casos, mais indicadores de cancro – e do tipo de cancro – do que as mutações.
“O nosso trabalho anterior indicou que os ensaios baseados em metilação superam as abordagens tradicionais de sequenciamento de ADN para detetar múltiplas formas de cancro em amostras de sangue”, diz o principal autor do estudo, Geoffrey Oxnard, médico no Dana-Farber.
“Os resultados do novo estudo demonstram que estes ensaios são uma forma viável de rastrear as pessoas em busca de cancro.”
Resultados muito promissores
No estudo, os investigadores analisaram 3.583 amostras de sangue, incluindo 1.530 de doentes diagnosticados com cancro e 2.053 de pessoas sem cancro.
As amostras compreenderam mais de 20 tipos de cancro, incluindo mama, colorretal, esófago, vesícula biliar, gástrica, cabeça e pescoço, pulmão, leucemia linfoide, mieloma múltiplo, ovário e cancro do pâncreas.
A especificidade geral do exame de sangue foi de 99,4%, o que significa que apenas 0,6% dos resultados indicaram incorretamente a presença de cancro.