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Mais barreiras para as mulheres no acesso à reabilitação cardíaca

reabilitação cardíaca nas mulheres

As pessoas que participam em programas de reabilitação cardíaca após um evento cardíaco grave melhoram a sua qualidade de vida e a sua saúde cardiovascular a longo prazo. No entanto, existem diferenças significativas no acesso, na participação e nos resultados da reabilitação cardíaca para as mulheres em comparação com os homens, revela uma nova declaração científica publicada na revista Circulation, a principal publicação da Associação Americana do Coração.

“A reabilitação cardíaca ajuda as pessoas a recuperar fisicamente após um evento cardíaco grave, ao mesmo tempo que capacita os doentes, apoiando o seu bem-estar emocional e social durante todo o processo de recuperação”, afirma Thais Coutinho, médica, professora de medicina e diretora da Clínica de Aorta da Mayo Clinic em Rochester, EUA. “Através do atendimento personalizado e apoio a mulheres com doenças cardíacas, podemos ajudar a melhorar a sua qualidade de vida e reduzir o risco de futuros eventos cardíacos.”

Reabilitação Cardíaca na Mulher, a nova declaração científica da Associação Americana do Coração, detalha estas lacunas e recomenda estratégias baseadas em evidências que visam aumentar as taxas de referenciação e a participação plena em programas de reabilitação cardíaca entre as mulheres com doenças cardiovasculares.

“Há uma necessidade urgente de aumentar a consciencialização sobre os benefícios da reabilitação cardíaca, aumentar as taxas de encaminhamento para as mulheres e abordar as barreiras que enfrentam para que possam participar e aproveitar a oportunidade de viver vidas mais longas, saudáveis ​​e felizes”, refere Coutinho.

Os benefícios da reabilitação cardíaca

A reabilitação cardíaca é uma intervenção comprovada que melhora a saúde cardiovascular e oferece benefícios como a redução das taxas de readmissão hospitalar, menores taxas de mortalidade e melhor qualidade de vida, revela a declaração científica, que refere ainda que este tipo de programas deve incluir exercícios aeróbicos e treino de força, aconselhamento nutricional, controlo do peso e controlo dos fatores de risco para a DCV.

As pessoas que neles participam apresentam melhorias nos fatores de risco para doenças cardiovasculares, incluindo maiores taxas de sucesso na cessação tabágica e maiores reduções na pressão arterial e no colesterol, bem como melhorias nos níveis de glicemia em jejum. E as mulheres participantes apresentam uma maior redução da mortalidade em comparação com os homens.

Apesar da eficácia da reabilitação cardíaca, as mulheres estão sub-representadas nestes programas e têm menor probabilidade de serem encaminhadas para eles: no geral, as taxas para as mulheres são 36% mais baixas do que para os homens. Mais ainda, as mulheres que beneficiam da reabilitação cardíaca tendem a ser mais velhas e a apresentar mais comorbilidades, como hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes tipo 2 ou obesidade, em comparação com os homens.

As mulheres são também afetadas por fatores individuais e sociais que determinam a sua capacidade de participar ou completar programas de reabilitação cardíaca, tais como responsabilidades de cuidados, dificuldades de transporte, conflitos de agenda, restrições financeiras e apoio social limitado.

A abordagem ao bem-estar psicossocial, incluindo a avaliação das necessidades psicossociais dos participantes e a referenciação para terapeutas ou conselheiros quando apropriado, é uma componente importante dos programas de reabilitação cardíaca, com vários estudos a verificarem que as mulheres com doenças cardiovasculares são mais propensas a apresentar depressão, ansiedade e stresse psicossocial em comparação com os homens, o que pode contribuir para piores resultados cardiovasculares.

As mulheres com antecedentes de cancro da mama ou ginecológico apresentam frequentemente um risco elevado de doenças cardiovasculares, e certos tratamentos contra o cancro têm efeitos cardiovasculares adversos que aumentam esse risco durante e após o tratamento, pelo que tanto os profissionais de saúde de reabilitação cardíaca como as mulheres com cancro e doenças cardiovascularesdevem ser informados sobre estes riscos.

Para os especialistas, o aumento das taxas de referenciação, participação e conclusão da reabilitação cardíaca entre as mulheres pode levar à melhoria da saúde cardiovascular e da qualidade de vida das mulheres com doenças cardiovasculares. As soluções recomendadas incluem: aumentar a sensibilização para os benefícios dos programas de reabilitação cardíaca; implementar sistemas de referenciação para garantir que todas as mulheres elegíveis são referenciadas; expandir o acesso e abordar as barreiras à participação através de agendamentos flexíveis e programas híbridos (presenciais e virtuais); e oferecer apoio personalizado para dar resposta às necessidades emocionais, sociais e físicas das mulheres.

 

Crédito imagem: iStock

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