Ziad Mallat é professor de medicina cardiovascular em Cambridge, no Reino Unido, e tem um desejo: ajudar a criar um mundo livre de ataques cardíacos e AVC. Para isso, acredita que será possível ter uma vacina capaz de os prevenir.
O principal interesse deste especialista é a aterosclerose, o mesmo é dizer, o endurecimento e estreitamento dos vasos que transportam o sangue de e para o coração, que acontece devido à acumulação de placa (gordura, colesterol, cálcio e outras substâncias que circulam no sangue).
Quando isto acontece, os vasos sanguíneos ficam mais estreitos, o que restringe a circulação do sangue e pode causar ataques cardíacos. Mais ainda, quando os fragmentos das placas se rompem, bloqueando totalmente o fluxo sanguíneo, há uma interrupção do fornecimento de sangue que chega ao cérebro, provocando um AVC.
Mallat explica, num artigo partilhado pela Universidade de Cambridge, que a aterosclerose é uma doença do sistema imunitário, uma doença de inflamação crónica. “Quando estes depósitos de gordura entram na parede da artéria, induzem a uma lesão”, explica. “O corpo está sob ataque e o sistema imunitário responde, enviando células para a artéria, para limpar o agressor e reparar o vaso sanguíneo.” O problema é que a resposta imunitária pode tornar-se muito agressiva, provocando danos adicionais às artérias.
Mas apesar de ser reconhecida como uma doença inflamatória crónica, não existem medicamentos anti-inflamatórios para tratar a aterosclerose. Em vez disso, as pessoas em risco tomam medicamentos para tornar o sangue mais fino e estatinas, para reduzir o colesterol, sem que nenhum seja capaz de chegar à raiz do problema.
“De momento, grande parte das informações que temos sobre o papel do sistema imunitário na aterosclerose é o que conhecemos de modelos pré-clínicos”, ou seja, estudos em células e animais. “Não entendemos muito bem a doença humana. Não sabemos os caminhos precisos que estão envolvidos.”
É isso que Mallat tem esperança de vir a mudar. Ele e sua equipa são um dos finalistas da Big Beat Challenge, uma competição organizada pela British Heart Foundation, que pretende atribuir até 25 milhões de euros para o combate aos maiores assassinos do mundo em forma de doença.
Mallat concorre com iMAP, um projeto que deverá ser capaz de tratar a aterosclerose. Para isso, conta com uma equipa de cientistas de diferentes áreas (medicina, biologia, imunologia, genética, matemática e até mesmo desenvolvimento de vacinas), que estão a aproveitar as tecnologias mais recentes, incluindo a inteligência artificial, para criar o primeiro mapa 3D do mundo das placas ateroscleróticas.
Um mapa que irá permitir a exploração de cada célula individualmente, observando a sua posição, o seu material genético, como comunica com outras células e como muda o seu papel ao longo do tempo.
Estes passos irão ajudar a identificar os principais componentes envolvidos no desencadear da resposta inflamatória e, depois disso, alguns medicamentos potenciais e até mesmo uma vacina contra a doença.
Uma vacina que iria preparar o sistema imunitário para que fosse capaz de reconhecer as artérias “feridas” e não montasse um ataque total.
“Precisamos parar de pensar na aterosclerose como uma doença de idosos”, refere, reforçando que pode afetar – e afeta – pessoas mais jovens, sendo necessária “uma intervenção logo desde o início, para impedir que a doença tenha lugar”.