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Exercícios supervisionados melhoram força e desempenho físico em doentes com cancro da mama metastático

cancro da mama metastático

Os exercícios aeróbicos e de resistência podem melhorar significativamente o desempenho físico em doentes com cancro da mama metastático, de acordo com novos resultados apresentados na Oitava Conferência Internacional de Consenso sobre Cancro da Mama Avançado (ABC8).

Anne May, professora de Epidemiologia Clínica da Sobrevivência ao Cancro no Centro Médico Universitário (UMC) de Utrecht e no Instituto Holandês do Cancro, nos Países Baixos, apresentou novos resultados do estudo PREFERABLE-EFFECT que mostraram que um programa de nove meses de exercício supervisionado melhorou a massa e a força muscular, sobretudo nos braços e pernas, e o desempenho físico em doentes com cancro da mama metastático.

“Até agora, havia poucas evidências de que o exercício físico pudesse melhorar a massa e a força muscular em doentes com cancro metastático, em parte porque eram frequentemente excluídos dos estudos”, refere May. “Os tratamentos para a doença podem afetar a qualidade de vida dos doentes, com efeitos secundários debilitantes como fadiga, náuseas e dor. Combinados com a própria doença subjacente, o tratamento e a inatividade física, estes fatores causam frequentemente uma diminuição da massa muscular esquelética, o que afeta negativamente a composição corporal, a força muscular e o desempenho funcional.”

De acordo com a especialista, “em doentes submetidas a quimioterapia para cancro da mama localizado ou avançado, a baixa massa muscular tem sido associada a um aumento da toxicidade relacionada com o tratamento, a reduções de dose mais frequentes, bem como a piores resultados do tratamento e a uma menor sobrevivência. Além disso, a terapia hormonal está associada a uma baixa massa muscular”.

“O exercício físico tem-se mostrado eficaz em doentes com doença não metastática. O estudo PREFERABLE-EFFECT é o maior estudo até à data a investigar se o exercício físico é uma opção viável e eficaz para doentes com cancro da mama avançado.”

Efeitos cancro da mama metastático

O estudo é um ensaio clínico randomizado e controlado internacional, envolvendo centros de cinco países europeus (Alemanha, Polónia, Espanha, Suécia e Holanda) e da Austrália. O estudo recrutou 357 doentes com cancro da mama metastático em estádio IV entre 2019 e 2022, a maioria a receber tratamento de primeira ou segunda linha e 74% com metástases ósseas.

Metade recebeu o tratamento padrão e a outra metade participou num programa de exercício de nove meses, composto por treino aeróbico, de força e de equilíbrio, supervisionado por um profissional de saúde duas vezes por semana durante seis meses. Nos restantes três meses, as doentes do grupo de exercício substituíram uma sessão supervisionada por semana por uma sessão não supervisionada. Todas as participantes receberam um monitor de atividade e a recomendação geral de praticar atividade física durante 30 minutos ou mais por dia.

“Ao fim de seis meses, verificámos que o exercício melhorou significativamente o desempenho físico, incluindo o equilíbrio e a força muscular, tanto aos três como aos seis meses”, afirma May. “A massa magra corporal total, que é um indicador de massa muscular, aumentou no grupo de exercício, enquanto houve uma diminuição no grupo de controlo. Comparativamente ao grupo de controlo, a massa muscular foi, em média, 0,79 kg maior após três meses, uma diferença estatisticamente significativa, e 0,32 kg maior após seis meses no grupo de exercício.”

A massa muscular nos braços e pernas aumentou significativamente no grupo de exercícios supervisionados: aos três meses, o aumento foi de 0,6 kg em média e de 0,48 kg aos seis meses, em comparação com o grupo de controlo. O índice de massa muscular esquelética, que é semelhante ao índice de massa corporal (IMC) para os músculos, também aumentou em média 0,22 kg/m² após três meses e 0,18 kg/m² após seis meses, em comparação com o grupo de controlo.

Estas medidas de massa muscular nos braços e pernas são importantes porque estes músculos são responsáveis ​​pelo movimento e pela sustentação do peso. Assim sendo, a deterioração é um importante indicador de perda de massa muscular esquelética, resultando em fragilidade.

No grupo de controlo de doentes, a massa muscular e o índice de massa muscular esquelética nos braços e pernas diminuíram aos três e seis meses.

“É importante salientar que o equilíbrio melhorou no grupo de exercício. A baixa massa e a força muscular estão associadas a problemas de equilíbrio, que podem ser ainda mais agravados pelos danos nos nervos das mãos e dos pés induzidos pela terapia, aumentando o risco de quedas”, refere a especialista.

“Prevenir as quedas é particularmente importante em doentes com metástases ósseas, uma vez que apresentam um maior risco de fraturas. Uma doente, que apresentava problemas de equilíbrio, não conseguia entrar e sair do autocarro no início do estudo. Após ter sido incluída no grupo de exercício supervisionado, este problema foi resolvido e agora ela consegue voltar a utilizar o autocarro. Isto significa que ela pode voltar a frequentar o centro da cidade e a biblioteca.”

“Os resultados do nosso estudo são importantes, dado que a massa corporal magra está associada a uma melhor tolerância ao tratamento, prognóstico e saúde geral, e o aumento da força muscular está correlacionado com uma melhor qualidade de vida e menor risco de mortalidade. Isto reforça o apelo para que o exercício, especificamente o exercício supervisionado com componente de resistência, seja integrado como parte padrão do tratamento do cancro da mama metastático”, reforça.

Novo centro de recursos sobre exercício

A ABC Global Alliance vai lançar um Centro de Recursos de Atividade Física no início de 2026, desenvolvido para pessoas com cancro da mama metastático, os seus cuidadores e profissionais de saúde ou de exercício físico. Conterá vídeos, guias de exercício e links para recursos externos adequados para pessoas com diferentes locais de metástase, diferentes sintomas e diferentes níveis de aptidão física ou entusiasmo pelo exercício.

“Como fisioterapeuta oncológica, tenho visto como o exercício físico traz grandes benefícios aos doentes. No entanto, é importante que o exercício seja personalizado, supervisionado e seguro”, refere Isabelle Aloi-Timeus, fisioterapeuta oncológica e fundadora e presidente da Salvati AC, uma organização sem fins lucrativos na Cidade do México dedicada a melhorar a qualidade de vida dos doentes oncológicos, e coordenadora do grupo de trabalho da ABC Global Alliance que desenvolve o centro de recursos de atividade física.

Eva Schumacher-Wulf, doente com cancro da mama metastático, editora-chefe da revista alemã sobre cancro Mamma Mia! e membro do grupo de trabalho que desenvolve o centro de exercício físico, considra que “todos sabemos o quão importante é o exercício – para a qualidade de vida e talvez até para o prognóstico. No entanto, as pessoas com cancro avançado têm necessidades especiais, e nem todo o programa de exercício é viável ou adequado. É por isso que os programas de exercício direcionados são tão importantes para estes doentes”.

Já Fatima Cardoso, oncologista clínica e presidente da ABC Global Alliance, refere que, “no tratamento do cancro da mama avançado ou metastático é fundamental encontrar um bom equilíbrio entre a quantidade e a qualidade de vida. É necessário investir na investigação não só para o desenvolvimento de novos e melhores tratamentos, mas também para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com esta doença. A investigação da Professora Anne May representa um importante avanço nesta área e contribui para o empoderamento da doente. Ao aprender a fazer exercício da melhor forma, a doente pode melhorar diretamente a sua qualidade de vida e recuperar algum controlo sobre a doença”.

 

Crédito imagem: iStock

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